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Toy Story 4 | Crítica – Era mesmo necessário fazer um filme tão bom?

Eu sei que vocês devem estar pensando, lá vem o crítico cult questionando a necessidade de um novo filme de uma franquia que parecia estar fechada. Sorry! Não darei esse gostinho pra vocês. Toy Story 4, já adiantando meu veredito, é incrível.

Confesso que o fim da jornada de Andy somada a passagem de bastão para a pequena Bonnie parecia, meio que obviamente, que o ciclo se fechava. Afinal acompanhamos o crescimento de Andy e o ciclo só teria que se repetir com outra criança. Toy Story 3 parecia o fim, tudo além disso seria sacrilégio.

Assisti aos trailers receoso, com a impressão que era mais do mesmo. Cheguei ao cinema, mesmo que ansioso, com um pé atrás, mas a cada diálogo e cena ia me desmontando e com cinco minutos de filme já estava entregue. Toma Pixar e Disney, meu coração é de vocês, sou uma putinha em suas mãos. Sim, eles conseguiram.

O quarto capítulo da franquia de brinquedos deveria começar no ponto que terminava o 3, mas o diretor Josh Cooley preferiu brincar com nossos sentimentos. Com um prólogo em flashback, mostrando qual foi o destino de Betty após Toy Story 2, já emendado em um plano sequência mostrando a passagem de tempo deste ponto até onde a história começa definitivamente.

A direção da animação, cada vez mais aprimorada, passa um realismo e uma sensação cinematográfica espetacular. Josh, que apesar de ter dirigidos outros sucessos da Pixar, como: Os Incríveis, Ratatouille, Carros, Divertidamente e UP, fez sua estreia na franquia de Woody e Buzz brilhantemente.

Só com isto o filme já valeria a pena acontecer, mas com o desenrolar da história entendemos que a franquia tinha um outro caminho a seguir. Era um Roadie Movie, um filme sobre a jornada de um personagem que já não tinha mais espaço no mundo de Bonnie, Woody.

Sim, o nosso cowboy querido passa a questionar a sua função e se tinha relevância. Bonnie não é o Andy, e isso muda seu papel. Paralelo a isso temos a introdução de um novo personagem, o Garfinho, que como um novo e inocente espectador (ou uma criança de um geração mais nova que a nossa, sacou? kkk) está aprendendo com o Woody como é ser um brinquedo. Ou seria ele ensinando ao cowboy como ele realmente é?

Com a trama focada nestes dois personagens, a interação precisa de um roteiro inteligente, mas sem complexidade, já que, embora a sala de cinema esteja repleta de adultos, o filme é feito para o público infantil. A minha sessão era composta por mais de 60% de crianças de até 10 anos, e elas ficaram vidradas durante todo o longa. Todos riam e reagiam, de acordo com a idade, a sua maneira a cada isca que o filme jogava em seu roteiro. Eram costumeiros longos momentos de silêncio com os presentes prestando atenção em cada detalhe do filme.Temos um bom roteiro, uma direção certeira e uma montagem perfeita, produção?

A jornada de Woody é explorada de todas as formas possíveis, rimando e fazendo você criar uma empatia ao drama (isso mesmo que você leu) do personagem e rindo com as situações mais hilárias.

Mas pra jornada do xerife fazer sentido era necessário uma âncora moral, alguém que ligasse o seu passado glorioso a oportunidade de fazer algo diferente. Aí que surge Betty, ausente do último filme, mas que vêm de uma forma empoderada e natural, como é o mundo hoje em dia, mostrando que por mais que um brinquedo tenha a sua criança, ele pode estar perdido. Descobrir o seu lugar no mundo é apenas parte da jornada, e Betty é importante demais nisso.

A própria Gabby Gabby, a vilã, tem um papel importante na trama, explorando o plot do brinquedo esquecido e ultrapassado de uma forma uma pouco diferente.

Buzz tem uma subtrama própria, que serve apenas como alívio cômico, mas que traz um momento muito emocionante no fim do filme. Ele é coadjuvante, sua jornada fica totalmente em segundo plano, tal como os outros brinquedos de Bonnie. Eles são plano de fundo pro desenvolvimento de Woody.

Além disso temos a adição de 3 personagens muito bons,  o Coelhinho e o Patinho, marrentos, cheios de ginga, mas com uma ingenuidade hilária e o Duke Caboom, um divertido e dramático motoqueiro canadense, dublado originalmente por Keanu Reeves.

Por falar na dublagem, a brasileira é a melhor do mundo e, mesmo que goste da dublagem americana, é infinitamente superior a original. Adaptações de piadas com citações até a Choque de Cultura faz com que o texto do filme fique ainda mais acessível. Guilherme Briggs é um gênio.

Tecnicamente, a evolução da animação é inacreditável, cada vez com mais nuances de textura, luz e movimentação. A fotografia e montagem não deixa nada a desejar perante grandes produções hollywoodianas. O patamar do estúdio é cada vez mais alto, mas no geral isso é tão irrelevante perto da emoção e do trem carregado de sentimentos que o filme traz. Toy Story 4 poderia parecer desnecessário, mas nunca subestime a Pixar, eles não tem limites. Ao infinito e além.

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