Filmes e Séries

Review | Black Mirror S04E02 – Arkangel

Eu tenho uma filha. Quando tinha uns 6 ou 7 anos, ela tinha mania de se distrair no mercado e não ouvia quando chamávamos. Um dia, em um mercadinho perto de casa, resolvi dar uma lição nela, para que ela prestasse mais atenção. Chamei, ela não ouviu, saí e fui para o corredor ao lado. Escutei o “Mãe?” e voltei. Quando cheguei no corredor onde eu a havia deixado, onde estava ela? Foram 5 segundos desesperadores até que a encontrei no corredor seguinte. Então, a lição foi tanto para ela quanto para mim, isso porque o mercado tinha uns 5 corredores!

Se eu já quis colocar um microchip no cérebro da minha filha para saber onde ela está a cada minuto? Claro! Que pai nunca quis? A perspectiva de perder seu alguém mais importante é assustadora demais até para colocar em palavras. Por isso, este episódio de Black Mirror falou comigo diretamente e foi extremamente chocante para mim.

Neste episódio muito bem dirigido pela aclamada atriz e diretora Jodie Foster, Rosemarie de Vitt vive uma mãe solteira, que mora com seu pai idoso e sua filha de 3 anos. Um dia, ao levar a menina em um parquinho, ela a perde de vista por alguns momentos e a menina desaparece. Ela a encontra logo depois, mas o desespero a faz procurar um tratamento experimental.

O Arkangel é um grupo que permite, através da implantação de um sensor cerebral, controlar a criança, através de um tablet, seja sabendo sua localização por GPS, como também sua temperatura, níveis hormonais, de vitaminas, estresse, uso de drogas, ver o que ela está vendo e mais. Um bônus extra seria um filtro, como tem em smartvs, que impede que a criança veja conteúdos inapropriados para ela. No início, a mãe acha exagerado, mas, com o tempo, ela vai colocando os filtros a ponto da menina, ao crescer, não saber o que é ver sangue, ou o avô passando mal, ou a mãe chorando, por exemplo.

O controle excessivo da mãe se mostra nocivo, conforme a menina cresce, sendo considerava estranha pelos amigos de escola e sentindo-se excluída. Quando ela se torna violenta, frustrada com tudo que ela não consegue ver, a mãe decide, já que não pode retirar o microchip, pois o Arkangel não deu certo e não existe mais, guardar o tablet e deixar a menina viver sem a sua observação constante.

Tudo fica bem até a menina completar quinze anos. Então, aparece um rapaz que ela se interessa, e as mentiras começam. Quando a mãe descobre que a filha não contou a verdade sobre onde ela estava, obviamente não resiste e começa a vigiar a menina novamente.

É aí que a história aborda brilhantemente até onde pode ir o controle dos pais e onde começa a autonomia do jovem. O controle da mãe é tão excessivo que até mesmo coloca contraceptivo para a filha abortar, antes mesmo que ela soubesse que estava grávida.

O desfecho do episódio quase termina em uma tragédia, mas mostra a desumanização da jovem, assim como o desespero da mãe ao perder totalmente o controle sobre a vida dela. Como todos os episódios de Black Mirror, ele choca e te faz pensar. Até onde você pode ir para controlar seu filho? Onde termina a proteção e começa o abuso? Será que as pessoas estão se tornando superprotetoras e gerando adultos despreparados? Até onde o excesso de proteção impede qualquer coisa? Até onde ele é nocivo?

O episódio entrega perfeitamente o que deseja, em uma história previsível, mas nem por isso menos chocante. Não é o melhor que Black Mirror pode oferecer, mas é muito bom!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *