Após o sucesso de crítica e público com o remake do segundo jogo da franquia, o lançamento de uma versão reimaginada de Resident Evil 3 era uma aposta fácil como o próximo passo da Capcom.
A aventura de Jill Valentine em sua fuga de Raccoon City é um dos capítulos favoritos dos fãs, tanto pelo seu perseguidor implacável, quanto por passarmos por cenários memoráveis da cidade, com direito a batalhas épicas com alguns dos chefes mais legais da franquia.
Gráficos incríveis

Se Resident Evil 2 impressionava com seu belo trabalho de fotorrealismo, a grande evolução aqui fica por conta do trabalho de luzes e sombras. É incrível como a cada novo título a Capcom entrega um jogo ainda mais bonito na RE engine, e eu acreditava que nada poderia superar Devil May Cry V.
Claro, nada desse trabalho poderia ser feito com qualidade se não fosse a direção de arte do jogo, que trabalha bem com essa brincadeira de luzes e iluminação, e acerta em cheio também nos novos modelos de personagens. (Nada de Chris Redfield versão Luciano Hulk por aqui!)
A versatilidade e otimização fazem o jogo rodar bem e de maneira agradável em qualquer plataforma, seja nos Xbox One e PS4 base, ou nas suas versões premium. A versão de PC funciona bem mesmo em configurações modestas, e fica incrível em um PC Gamer de qualidade.
Trilha Sonora de arrepiar
Diferente do game anterior, Resident Evil 3 traz naturalmente as faixas clássicas que conhecemos da sua versão original, mescladas com algumas músicas originais, mas que fazem sentido dentro da proposta do jogo. As faixas clássicas foram rearranjadas, e ficaram incríveis! Tem momentos em que começa a música e dá um calorzinho no coração, misturando sentimentos de emoção e nostalgia de maneira incrível.
Além da trilha, a saga sempre teve um design de som invejável, e aqui entrega mais um trabalho de qualidade, fazendo com que o jogador fique imerso no apocalipse zumbi de Raccoon City. Se puder, jogue com fones de ouvido, ou com um Home Theater de qualidade, os sustos estão garantidos!
Narrativa cinematográfica

O cinema sempre foi uma inspiração para Resident Evil, desde o primeiro jogo que trazia os zumbis de George Romero, aos jogos enumerados a partir do quarto jogo trazendo tramas de espionagem e plot twists hollywoodianos.
Se o remake anterior já trazia diálogos e cenas mais cinematográficas, Resident Evil 3 é praticamente um filme de 5 horas. O jogo te deixa com adrenalina lá em cima, e mesmo nos momentos de respiro do roteiro e da jogabilidade, o jogo faz questão de te dizer que você está correndo contra o tempo.
Carlos e Jill tem suas personalidades atualizadas, e o carisma do latino rouba a cena muitas vezes, espero que o personagem possa voltar em algum jogo no futuro. Os outros membros da UBCS também seguem tendo um papel importante, e são melhores explorados dentro do jogo.
Jogabilidade renovada
Assim como do segundo para o terceiro jogo da série clássica, Resident Evil 3 traz algumas mudanças e adições na jogabilidade que ajudam a dar o tom na trama de ação e perseguição.
A primeira grande adição notável é o movimento de esquiva. Agora podemos desviar dos ataques dos inimigos pressionando o botão de esquiva. Acerte o tempo e tenha uma grande vantagem, porém, se errar as chances de ser atacado pelas costas e tomar um dano adicional são grandes. Se realizada de maneira perfeita, o jogo te dá a vantagem de um slowmotion para acertar os inimigos em seus pontos fracos. Dominar a esquiva é vital para seu sucesso, principalmente se quiser economizar munição e conseguir terminar o jogo o mais rápido possível para conseguir um bom ranque.
Facas e granadas deixaram de ser itens defensivos, e agora são equipados como armas. Se prepare para ver muitos zeramentos só usando a faca nas plataformas de streaming por aí.
Por último, e não menos importante, o jogo adicionou um quick time event para toda vez que você for atacado por um zumbi. Quanto mais rápido apertar o botão, menos dano irá tomar, e mais rápido irá tirar o zumbi fedorento de cima do seu cangote.
Nemesis

Um dos fatores que fez o Resident Evil 3 original ser tão marcante, com certeza foi o perseguidor implacável, a arma biológica apelidada de Nemesis, era a síntese da vingança da Umbrella contra os S.T.A.R.S. No jogo clássico Nemesis te perseguia de forma constante em trechos mais livres do jogo, e te fazia escolher bem antes de enfrentar a criatura ou pegar uma rota para ir atrás daquele item que você deixou para trás por falta de espaço no inventário.
Eu gostei do que fizeram com o Nemesis na nova versão, porém, as possibilidades eram tantas, que fica um gostinho de que fizeram pouco. A evolução do Mr.X para o remake do segundo jogo é muito mais significativa do que o que fizeram com o Nemesis no jogo atual, e por mais legal e aterrorizante que sejam os momentos de perseguição, a falta de liberdade pro jogador fez com que os grandes momentos do grandalhão fossem muito curtos. Uma pena!
Mudanças importantes na história e grandes ausências
Quando pensamos nessa ideia da Capcom de refazer jogos clássicos da saga Resident Evil, as possibilidades são enormes, mas o plano parece simples para a maioria das pessoas: Recontar as histórias que amamos de maneira atualizada, alinhar a cronologia bagunçada, e por último e não menos importante, expandir conceitos que não eram possíveis por limitações tecnológicas.
Infelizmente, parece que os produtores parecem não ter entendido bem questões tão óbvias, que estão presentes por exemplo no remake do primeiro jogo lá no GameCube, que reconta a clássica história da mansão, expandindo os arcos, como a adição do trecho da Lisa Trevor.
Se no jogo anterior temos a falta de coerência nas campanhas de Claire e Leon, nesse temos uma história linear, com um bom roteiro, e mudanças significativas para personagens que não haviam sido tão bem explorados no passado. As mudanças irão agradar uns, desagradar outros, mas não dá pra dizer que temos um problema na história.

Entretanto, ausências de inimigos e áreas do jogo clássico não fazem o menor sentido. Refazer um jogo e retirar conteúdo dele sem um contexto explícito é estranho demais, principalmente se pensarmos em algumas inclusões que fizeram e que poderiam ser muito bem adaptadas dentro de cenários antigos. No mínimo, erro de planejamento por parte da produção.
Esses problemas de planejamento ficam explícitos em alguns momentos como a usina elétrica, onde temos os drain deimos, aqueles insetos asquerosos que nos atacam de várias direções. Ali, estabeleceram o status de “parasita”, onde precisamos usar uma erva verde para poder nos livrar dos parasitas no corpo. A ideia é ótima, e substitui bem o status de veneno que conhecemos, o grande problema é que eles usam esse inimigo somente durante esse único trecho do jogo, e nunca mais aproveitam dessa mecânica que criaram. Infelizmente, isso acontece outras vezes e demonstra a falta de planejamento no desenvolvimento do jogo.
Apesar dos pesares
Resident Evil 3 é um ótimo jogo, uma aventura rápida, com cerca de 6 horas de duração, jogabilidade de qualidade e com gráficos e sons de alto nível. Infelizmente o jogo perde um pouco do brilho pois vive na sombra do que poderia ser, principalmente se você assim como eu é um veterano da franquia. Nem só de acertos dá pra viver, e a Capcom tem crédito pelo trabalho que tem feito nos últimos 4 anos.
O jogo ainda tem um bom fator replay, habilitando uma loja de itens e roupas após o termino da campanha, assim você pode comprar armas com munição infinita, trajes e algumas surpresas. Essas compras são feitas com pontos que você adquire realizando conquistas.
Entre erros e acertos, o saldo de Resident Evil 3 é positivo, e merece ser jogado por todo mundo, principalmente parar tirar suas próprias conclusões. Que a Capcom siga em frente e traga finalmente um Resident Evil 8 para nós, pois parece que o caminho dos remakes está se esgotando.