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PerifaCon 2019 | Vivemos a história

A alguns meses atrás, comentei com colegas da redação de um evento que vinha nascendo com um ideal extremamente bacana, e que merecia nosso apoio. A PerifaCon surgiu através de um financiamento coletivo de estudantes universitários, que tinham o propósito de levar um pouquinho dos grandes eventos geeks de São Paulo para a periferia. Eles conseguiram.

A primeira edição da PerifaCon foi realizada neste domingo, 24, na Fábrica de Cultura do Capão Redondo, extremo da zona sul de São Paulo. Não havia local melhor para abrigar este evento, já que foi construído no coração do bairro com algumas das maiores favelas de São Paulo, com o propósito de trazer lazer e entretenimento para aqueles que são privados disso.

De fevereiro até a data do evento, a divulgação da PerifaCon foi estrondosa desde o boca-a-boca, influencers do meio geek aderindo a iniciativa e a própria equipe responsável que realizou um trabalho massivo nas redes sociais. Algo grande estava por vir.

As atrações começaram a ser confirmadas aos poucos, desde símbolos da representatividade da periferia como Marcelo D’Salete, ganhador do troféu HQMix, KL Jay, produtor dos Racionais MC’s, até Ivan Reis e Gabriel Bá, brasileiros com o nome em destaque no meio dos quadrinhos internacionalmente.

Quando enfim chegou o dia do evento, eu estava rodeado de expectativa, mas confesso que também um tanto quanto de receio, torcendo para que tudo aquilo que foi organizado e montado de forma brilhante pela organização, viesse a dar certo. Para isso, divido com vocês acertos e pontos de melhoria do evento:

Os acertos da PerifaCon

  • O principal objetivo do evento era abrir para a comunidade periférica algumas das oportunidades que um grande evento geek pode proporcionar. Isso foi extremamente possível, já que diversas crianças e famílias inteiras estiveram participando do evento, curtindo todas as atrações que ele pôde proporcionar;
  • Mesmo com a recusa de algumas empresas, receosas com o potencial do evento, a PerifaCon conseguiu trazer uma quantidade louvável de editoras e lojas para seu espaço de comércio, com descontos que sequer bienais da vida tem;
  • Como todo evento geek, a parte mais legal e diversa é dedicada aos artistas independentes, e o Beco dos Artistas da Perifa não deixou esse selo de lado. Mesmo com um espaço limitado, todos presentes, sejam expositores ou participantes do evento, puderam usufruir de forma inigualável as obras apresentadas, e muitos lidando pela primeira vez com um quadrinista frente a frente, trazendo histórias ambientadas na periferia, que atraíram ainda mais os olhares dos visitantes;
  • As mesas de debate tiveram temas muito bem escolhidos e participantes de peso. Marcelo D’Salete, Nathalia Bridi e Sidney Gusman foram alguns dos nomes que toparam o desafio de participar desses debates com o público que lotou todas as sessões, com temas como representatividade, o poder feminino no meio geek e a expressão da criatividade numa produção autoral;
  • A praça de alimentação foi algo que nunca havia visto em eventos que já presenciei. Toda a galera responsável pela comida era da própria região do Capão Redondo, e com todo carinho do mundo trouxe uma alimentação de qualidade e num preço justíssimo. O cardápio era diverso, variando de pastel de feira, bolos até um delicioso cuscuz;
  • A área externa foi dedicada ao palco, que dentre tantas atrações, agitou o público com bandas durante todo o evento e o cobiçado concurso cosplay no final do dia.

Pontos a melhorar

  • Por ser a primeira edição do evento e o hype ter sido grandioso próximo a data, muita gente compareceu na Fábrica de Cultura. Cerca de 4 mil pessoas passaram por lá, e pra quem esteve presente, pôde ver que o local não suportava tanta gente. Infelizmente o evento teve que controlar a entrada do público por conta de espaço, mas que uma vez mostrado o potencial desse evento, tende a melhorar para as próximas edições;
  • A movimentação entre os 7 andares do espaço estava restrita a escada em virtude da super lotação dos elevadores, que demoraram a ser organizados para movimentação apenas de convidados do evento e visitantes com deficiência ou mobilidade reduzida;
  • Por conta da organização do local cedido para realização do evento, a abertura oficial atrasou por 1 hora, o que levou as atrações programadas a atrasarem também, impactando planos de cobertura da imprensa e participação dos convidados, que tinham de migrar de um andar a outro nos intervalos.

Dentre pontos de oportunidade e acertos na mosca, a PerifaCon fez história, mostrando que um evento geek pode ser muito bem organizado se feito com amor, seriedade e dedicação de todos envolvidos, mesmo que com pouco investimento e barreiras pra tudo que é lado.

É muito louvável ver as empresas que apostaram no evento encantadas com o resultado, fazendo com que o evento possa tornar uma proporção ainda maior nos próximos anos, com uma estrutura maior e mais atrações para o público periférico que precisa dessa atenção.


Como dito em um dos painéis que participei, a periferia não pode ser visto como a margem de tudo, mas sim como aquela que cerca a metrópole inflando-a de ideias, criatividade e cultura, tornando-se a principal parte dessa grande engrenagem.

Por fim, fica meu agradecimento a toda equipe da PerifaCon e orgulho em fazer parte dessa história tão bonita que só está começando. Vida longa a PerifaCon!

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