Literatura - Livros

Geek Love: Todos nós temos um lado Freakshow | Resenha – Não julgue o livro pela capa!

Sabe aquela história de não julgar o livro pela capa? Em Geek Love não se pode julgar o livro pelo título. Não, não é um romance sobre nerds – risos. É uma história estranhamente profunda e perturbadora. 

O livro começa com um uma nota da autora explicando a escolha do título, Katherine Dunn confessa que na verdade escolheu Geek Love como título apenas para que as pessoas parassem de ficar questionando sobre o que era a história. Ela também explica o uso do termo “geek” que difere um pouco do que estamos acostumados. 

[…] Mas neste livro vale o significado original, muito mais antigo. Um geek de verdade era um artista de circo ou de festival, apresentado como feroz ou psicótico, que arrancava a dentadas a cabeça de galinhas vivas. Às vezes, ratos, cobras ou outros animais eram usados, mas a galinha era a vítima mais comum. 

Então, na verdade, o livro conta a história de uma família circense, os Binewski. A historia de uma família circense “comum” já seria bem interessante, mas em Geek Love a autora acolhe o estranho de forma estranhamente confortadora. 

Al Binewski cresceu no circo e após a morte de seu pai acabou herdando o Fabuloso Circo Binewski que estava entrando em decadência. Logo depois, uma garota geek pediu para se juntar ao circo e Big Al ficou encantado com a moça de cabelos tão loiros que eram quase brancos, o romance entre Al e Crystal Lil floresceu e com a certeza dos frutos que viriam disso, surgiu uma ideia inusitada na mente de Al. Todo circo tinha suas aberrações como atrativos, mas eram aberrações não planejadas, criadas de qualquer jeito pela natureza. E se Al planejasse e produzisse suas próprias aberrações?

Assim, quando Crystal Lil ficava gravida, Al começava a ministrar radioatividade e drogas à ela para que afetassem a gestação e o bebe nascesse com algo de “especial”. Em cada gestação uma droga diferente era testada – e foram várias, mas apenas quatro tiveram final feliz. Primeiro veio Arty que no lugar dos membros tinha pequenas nadadeiras. Ele era o Aqua Boy, seu show a principio era ficar nadando dentro de um tanque enorme com água e falar com o publico as vezes; As gêmeas siamesas Elly e Iphy, elas se apresentavam todas as noites tocando piano e cantando; Oly, a anã albina, corcunda e calva que era um faz tudo para a família e também responsável por usar sua voz para atrair o publico; e Chick, o caçula especial.

Às vezes, só de olhar para Al e Crystal Lil eu queria bater na cabeça deles com uma barra de ferro. Não para matá-los, só para acordá-los.

Todos os outros fetos que sofreram aborto ou os bebes que morreram com poucas horas de vida ficavam expostos em vidros com formol no fim de um labirinto no circo. 

A história é contada por Oly, começa com ela já adulta e volta ao passado para explicar como ela chegou até ali. Todo universo do circo é amplamente explanado, as atrações, os trabalhadores, os shows, as cidades que visitavam e expectadores que iam até lá. Mas o mais importante sempre é a história da família, a relação que os membros da família tinham uns com os outros e as próprias percepções de Oly em relação a tudo que a cercava. 

Depois começou o medo de verdade. Com o bebê fora de mim e vulnerável, de repente eu via o mundo como um lugar hostil e perigoso. Qualquer coisa, inclusive minha ignorância, poderia feri-la, mata-la, tira-la de mim. Eu queria enfia-la de volta no meu corpo, onde estaria segura.

Ao decorrer da narrativa é possível acompanhar o desenvolvimento de cada um dos personagens principais, como eles mudam e como isso afeta o funcionamento da família como um organismo. Em certo ponto Arty desenvolve a arte de incutir ideais nas pessoas, ate mesmo em sua família e o que era apenas um show se torna algo grandioso e assustador.

O livro fala muito sobre o que é ser diferente, como cada pessoa aceita a si própria e julga os outros, as relações que temos com o que consideramos estranho. 

Trata-se de uma história pesada, quando digo pesada me refiro a estupro, mutilações, prostituição, incesto e agressões psicológicas.  Para apreciar todas as nuances envolvidas na trama, é preciso iniciar a leitura com a mente aberta, estar preparado para o que pode ser considerado bizarro.

O livro tem 412 páginas. Li a edição publicada pela DarkSide Books em 2018, está linda! Tem capa dura, corte das páginas colorido, fitilho para marcar as páginas e ilustrações maravilhosas da família Binewski

Eu gostei muito da história de Geek Love, é totalmente diferente de tudo o que eu já havia lido antes. Ouso dizer até que me fez enxergar as pessoas com olhos diferentes. 

Há aqueles cuja vulgaridade é tão aparente e incapacitante que eles tentam fugir dela. Fingem uma atitude exuberante e alegam originalidade de acordo com as excentricidades em voga no seu tempo. Declaram inteligencia, talento ou indiferença aos costumes em tentativas desesperadas de negar a própria mediocridade. Frequentemente, esses são os artistas, aventureiros e devotos da vida sem regras.

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