Em 2008 o Marvel Studios completa 10 anos e, desde o primeiro projeto, mesmo passando por produções questionáveis, é inegável o sucesso absoluto do estúdio. Pensando em contar um pouco dessa história de sucesso, que seria adquirido pela Disney um ano mais tarde, vou começar uma série de textos analisando a década de ouro da casa de ideias.
Hoje a Marvel é a maior franquia da história do cinema, tendo arrecadado mais de US$14bi mundialmente, sem contar os filmes licenciados pra outros estúdios como Homem-aranha e Motoqueiro Fantasma, com a Sony, Quarteto Fantástico, X-Men e Demolidor, com a Fox, Hulk, com a Universal e Blade com a New Line. Porém nem tudo foram flores para editora dos Vingadores e é sobre a fase pré Marvel Studios que vamos falar.
Os anos 90 e Avid Arad
Nos anos 90 a Marvel passou muitas dificuldades financeiras. Os Quadrinhos já não vendiam tanto e a falta criatividade contribuiu para o desgaste de suas histórias e posteriormente as baixas vendas. A DC teve um sucesso enorme no final dos anos 80, que se estendeu pelo começo da década e foi consolidado pelo sucesso dos filmes do Batman. O que era inevitável aconteceu, a Marvel entrou em concordata, a editora estava falindo.
Um movimento para evitar o fechamento da Marvel foi iniciado, e em meados de 1996 a casa das ideias se fundiu com a Toy Biz de Avid Arad, sendo renomeada para Marvel Toys, sobre a tutela da Marvel Enterprises. Depois de uma avaliação minuciosa, constataram que tinham em mãos um material muito valioso que poderiam equilibrar novamente as contas: Os direitos cinematográficos de seus heróis.
Foi criada a Marvel Films, sob a direção de Avi Arad, e começou um leilão com os direitos de seus heróis. Líderes de vendas na editora nos anos 90, Homem-aranha e X-men renderam mais grana e foram licenciados com mais facilidade.

Vale lembrar que além dos filmes citados, a New line também tinha os direitos do Homem-Ferro, onde quase fez um filme com Tom Cruise, e da Viúva-Negra, já a Lionsgate detinha os direitos de Pantera Negra, Capitão América, Thor e Punho de Ferro, enquanto a Universal com os direitos do Hulk. Todos esses a exceção do Hulk, que manteve os direitos de distribuição com a Universal, voltaram para o Marvel.
Como eu frisei acima, os direitos não foram vendidos, como se costuma dizer, e sim licenciados, os heróis ainda são da Marvel, mas os estúdios compraram o direito de explorar as histórias dos heróis e seus respectivos universos no cinema. A Marvel, na figura de Avid Arad, ainda participaria das produções como consultora, podendo sugerir ideias, que poderiam ou não aceitas pelos estúdios.
O único empecilho é alterar algum poder ou característica do personagem que pudesse mexer no cerne do personagem. Qualquer alteração desse tipo só poderia ocorrer com o consentimento da Marvel. (Deadpool de Wolverine: Origens não é culpa só da Fox)
Aqui fazemos uma pausa para entrada de outra figura importante: Kevin Feige.
Kein Feige, o Nerd certo na hora exata.
O jovem Kevin Feige era um nerd de carteirinha, fã de Liga da Justiça, X-men e Vingadores, quando resolveu seguir o legado seu avô, fazendo carreira no cinema. Ele se formou na escola de cinema da Carolina do Sul, seu sonho de consumo, onde tentou admissão cinco vezes, antes de ser aceito. Vale ressaltar que foi onde George Lucas, Ron Howard e Robert Zemeckis, seus ídolos, se formaram.
Entre 1996 e 1997 ele conseguiu um emprego de assistente de produção na produtora de Lauren Shuler Donner, esposa de Richard Donner, diretor de filmes como Goonies, Máquina Mortífera e um dos filmes favoritos de Kevin, Superman de 1978, seria um sonho?
Vale mencionar que nesta produtora ele trabalhou junto com Geoff Johns, Diretor de Criação da DC Films, um dos maiores nomes das HQs da DC e amigo pessoal de Kevin Feige. (chupa fanboys)

Ironia do destino, a produtora acabou se envolvendo na produção de X-men, em 2000, onde conheceu Avid Arad. O diretor da Marvel assistiu a uma discussão entre Kevin e a diretora de Cabelo e Maquiagem de Bryan Singer, onde o jovem assistente insistia que o cabelo de Wolverine deveria ser mais alto, modelado, como nos quadrinhos. Já a equipe da maquiagem dizia que era ridículo, eles queriam algo mais factível.
Feige perdeu a queda braço na produção, mas ganhou uma proposta de emprego de Arad. Ele queria aquele cara na sua equipe, nunca tinha visto alguém defender com tanto afinco e com tantos argumentos o personagem. Era óbvio o amor e o conhecimento do prodígio e ele o queria em sua equipe. Com as reviravoltas que o mundo dá, em X-men 2, já como funcionário da Marvel, ele se tornou Co-produtor do filme e o cabelo do Wolverine ficou do jeitinho que ele queria. Ele agora tinha poder.
Kevin se tornou o segundo homem na linha criativa da Marvel Films, somente abaixo de Avid, e co-produziu filmes como Demolidor (2003), Elektra(2005) e Blade Trinity (2004) e foi produtor executivo de X-men: O último confronto (2006), os dois Quartetos Fantásticos, o Hulk do Ang lee(2003), Spiderman 2 (2002) e 3(2007). Ele devolvia os roteiros cheios de notas do que ele achava bom e ruim e vale lembrar que vazaram alguns e-mails em que Kevin discutia fervorosamente com Amy Pascal sobre a quantidade vilões e questionava abordagens equivocadas no roteiro de Spiderman 3.
Planos para o MCU
Em 2008, depois de 10 anos licenciando seus filmes a Marvel decidiu tornar o estúdio independente e produzir seus próprios filmes. Reuniu sua equipe criativa, comercial e executiva e lançou a ideia. Avid Arad não gostou muito já que até então licenciar a outros estúdios, na visão dele, era um negócio lucrativo. Já Kevin Feige brilhou os olhos com as possibilidades e teve a ideia do que seria os moldes do Universo Compartilhado da Marvel, fazer 4 filmes solo, dos heróis que tinham os direitos, culminando no união deles, Os Vingadores.
Com Avid Arad contrariado, formou-se um comitê com Kevin Feige, agora co-presidente da Marvel Studios, Louis D’Esposito, o presidente da Marvel Comics, Dan Buckley, o editor-chefe criativo Joe Quesada, o escritor Brian Michael Bendis e o presidente da Marvel Entertainment, Alan Fine, que supervisionou o comitê. A equipe desenvolveu toda a ideia do MCU.

A ideia de Kevin Feige ganhou muita força, mas caia no primeiro empecilho: o dinheiro. Porém, mesmo não gostando da ideia, Avid tinha um nome no mercado e conseguiu um financiamento de US$165mi de dólares para produção de 10 filmes (sim, 10 filmes) e aceitou ser o produtor de Homem-Ferro e Hulk junto com Kevin Feige. A Marvel fechou contrato de distribuição com a Paramount para cinco filmes, mas quem bancava a produção era a casa das ideias. A Marvel chutou o barraco, apostou todas as fichas no filme de Tony Stark, usando quase toda a verba em um único filme (US$140mi).
O Sucesso
Avid viu Homem de Ferro se tornar sucesso absoluto, e o filme do Incrível Hulk, apesar dos problemas não comprometer, o que mostrou o quão promissora a ideia de Kevin Feige era. No final, ele estava errado, e como estava desgastado dentro do novo estúdio e saiu. Ele fundou o Arad Productions e passou a trabalhar junto a Sony para trabalhar nas produções da Marvel com o estúdio. Atualmente é o produtor do filme do Venon, que sai no fim do ano.

De olho no sucesso da promissora franquia, a Disney adquire a Marvel Entertainment, por US$4bi e se torna dona de todo espólio do estúdio. Os filmes de Thor, Capitão América e a continuação de Homem de Ferro já estavam em produção, mas só que devido ao contrato com a Paramount só poderia distribuir os filmes da Marvel depois de Vingadores.
O primeiro presidente da Marvel Studios foi David Maisel, entusiasta das ideias Kevin Feige, mas que não permaneceu no cargo após da compra da Disney, que não queria um executivo no topo do estúdio, eles queriam alguém criativo e que entendesse do negócio. A escolha parecia óbvia e Kevin Feige se tornou o Presidente da Marvel Studios. O resto é só história e vamos tentar contar nos próximos textos.
Desculpem o tamanho do texto, mas cada detalhe era necessário para explicar como a semente foi plantada. Até mais.