Filmes e Séries

Crítica | O Mecanismo (Netflix)

Quando José Padilha anunciou que trabalharia numa séria sobre a Lava Jato para a Netflix, muitos bateram palmas pela coragem de abordar esse assunto tão recente, e outros vaiaram pensando ser uma tentativa midiática de levantar bandeiras partidárias. Felizmente, O Mecanismo chegou a Netflix mostrando que além de alto nível técnico a série serve para nos fazer questionar como funciona o sistema e todo o mecanismo de corrupção e como o sistema funciona no Brasil.

A série começa na narrativa de Marco Ruffo, um delegado da polícia federal com temperamento explosivo, e que vive indignado com a corrupção e acha que está tudo errado no Brasil. Ruffo é a retratação do cidadão comum, eu, você, e todos que se questionam diariamente como a criminosidade pode acontecer no país e sempre sair impune; Seja do pequeno assaltante da esquina, aos grandes plantéis do planalto federal. Além de Ruffo, sua aprendiz, Verena Cardoni é o outro ponto de vista da trama, e mostra uma visão mais abrangente de todos os processos que acontecem dentro da Lava Jato.

A série tomou como ponto de partida o livro  Lava Jato: O Juiz Sergio Moro e os Bastidores da Operação que Abalou o Brasil, porém utilizou nomes fictícios para poder trabalhar com liberdade criativa e conseguir transformar as chatas sessões políticas em um Thriller policial de qualidade e que prende a atenção do expectador. Como exemplo temos o ex presidente Lula, representado como João Higino, Dilma Roussef transformada em Janet Ruscov, e o juiz Sérgio Moro como Paulo Rigo.

No aspecto técnico, Padilha continua mantendo seu alto nível. Os roteiros, que foram escritos por Padilha em conjunto com Elena Soarez, tem excelentes diálogos, e rendem diversos devaneios sobre todo o sistema político do Brasil. Utilizando-se sempre da narração de Ruffo ou Verena, a série nos faz sempre refletir sobre o que é certo ou errado, e o quanto tudo é meio cinza e nebuloso nos dias de hoje. A trilha sonora é boa, e tem bons acertos musicais em cenas chave. A fotografia estilizada, em conjunto com a excelente direção de arte de Marcos Prado e Felipe Prado, deixa o clima do Thriller ainda mais fascinante para que gosta do clima noir, principalmente durante os monólogos de Ruffo.

As atuações também são excelentes, e todo o núcleo central da trama faz um trabalho digno de premiações. O sereno Selton Mello incorpora o impulsivo e neurótico Ruffo de maneira exemplar. Carolina Abras consegue passear bem em seus momentos de tensão e drama, indo desde a policial durona que bota o dedo na cara, até a mulher frágil que precisa aguentar toda a tensão de estar lutando contra algo maior do que sua simples vida. Enrique Diaz faz muito bem o caricato papel do doleiro, trapaceiro, sorrateiro, e odiável Roberto Ibrahim.

Essa é uma série para você repensar se vale realmente a pena escolher um lado nessa guerra política cada dia mais partidária e que transforma tudo numa grande partida de futebol. Seja a esquerda, ou a direita, cada um deles tem seus objetivos, cada um deles tem seus planos e vontades, e você, junto com eles, faz parte desse grande processo, você é só mais uma engrenagem que ajuda a girar todo esse maquinário político, corrupto, e cruel, que a séria chama de O Mecanismo. É uma pena que as pessoas que deveriam assistir a série, são justamente as que vão boicotar e criticar devido as suas posições políticas.

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