Nos tempos atuais, o mercado cinematográfico busca a cada momento “serializar” suas produções, criar grandes franquias, maximizar lucros com spin-offs e espremer o máximo possível alguma ideia que pareça original. Se pegarmos como exemplo a Marvel, que nos últimos anos levou isso a um grau máximo, é uma medida com retorno financeiro garantido aos estúdios, na maioria das vezes. Outros exemplos são Transformers, Velozes e Furiosos, Harry Potter, DC, enfim, não faltam franquias de sucessos financeiros com uma exploração massiva de alguma boa ideia.
O grande desafio de Kingsman – O Círculo Dourado foi não cair nestas armadilhas de Hollywood, além de passar pela “provação” de ser a continuação de um filme de muito sucesso. Afinal seu predecessor, Kingsman – Serviço Secreto, foi a grande surpresa de 2014. A adaptação dos quadrinhos de Mark Millar e David Gibbons chegou às telas com Matthew Vaughn na direção e foi rapidamente aclamada pelo público e crítica, chamando a atenção da FOX para a criação de uma nova franquia.
Digo de antemão que, na minha opinião, a sequência não superou o original, porém não fez feio. O filme é também muito bem dirigido pelo Vaughn e apostou em um elenco recheado de estrelas e um roteiro, que apesar de cair em alguns clichês “jamesbondianos”, conseguiu desenvolver uma história muito interessante, cheia de ação, explosões e humor muito bem encaixado.
A continuação começa pouco depois do filme anterior, mostrando a rotina de Eggsy, vivido por Taron Egerton, como o novo Galahard, na agência Kingsman. A sequência inicial tem uma perseguição repleta de ação com um antigo companheiro, e culmina em um jantar com seu par romântico, a Princesa Tilde! Sim, ela voltou. Um pouco subdesenvolvida, é verdade, mas é papel fundamental no desenvolvimento de Eggsy. Em pouco tempo de filme já surgem problemas como assassinatos, Cartel de drogas, o aparecimento de uma nova organização, a queda da Kingsman e o surgimento de uma nova Vilã, tão caricata e ameaçadora como Valentine de Samuel L. Jackson em Serviço Secreto, Popins, encarnada maravilhosamente por Julianne Moore.
Julianne Moore está simplesmente fantástica! Meticulosa e assustadoramente encantadora, ela beirava a insanidade com ações violentas, cheias de ternura e carinho. Seu plano é típico de um vilão de quadrinhos, mas adaptado para o cinema com maestria. Vale lembrar que o enlouquecido presidente americano, claramente inspirado em Trump, serviu como um trampolim para suas armações (que coincidência, não é mesmo?), mas nada tira o brilho da maior mente da organização Circulo Dourado.
Um ponto que acrescentou muito ao filme foi a descoberta da co-irmã Statesman, uma agência americana nos mesmo moldes da Kingsman, que ao invés de usar a alfaiataria como fachada é uma empresa de fabricação de Uísque no sul dos Estados Unidos. Aliás, a escolha foi um ponto alto no filme. O sotaque sulista, o jeito caipira dos americanos contrastou com a cortesia e elegância britânica de maneira única. Enquanto os Kingsman tem nomes de cavaleiros da távola redonda, como Merlin, Galahad, Lancelot, os Statesman possuem nomes de bebidas como Champ, Uísque, Tequila. Jeff Bridges, Pedro Pascal, Halle Berry e Channing Tatum deram ao núcleo americano características únicas. Aliás, senti até muita falta no desenvolvimento do personagem de Tatum, que soa muito interessante inicialmente, mas do nada é praticamente excluído da história. Parece que um conflito na agenda fez com que sua participação fosse reduzida e por consequência o papel de Pascal ganhou mais espaço. Uma pena, apesar do gancho que ficou para o que seria o encerramento da trilogia.
A volta de Colin Firth como Harry, que poderia ter sido escondida no material de divulgação e guardada como uma surpresa para o filme, era algo que me incomodava. Não sabia se seria verossímil seu retorno após ele ter levado um tiro na cabeça.Por incrível que pareça, sua volta foi explicada em uma cena de menos de dois minutos e de uma forma plausível, levando em consideração que estamos falando de um filme que se atira com guarda-chuva e com cachorros robôs, e sua presença foi importante pra algumas viradas do filme.
Outro destaque na atuação fica pra participação especial de Elton John. Sem brincadeira, foi a melhor surpresa do filme. Teve relevância para trama, foi alívio cômico e teve muitas cenas de ação incrivelmente boas.Vale lembrar que temos uma edição da piada da porta de trás com ele, que ficou hilária.
No quesito ação, talvez falte uma cena grandiosa como foi a da Igreja no primeiro filme, porém estão espalhadas excelentes cenas de ação, com a câmera frenética de Matthew em ângulos inusitados e com câmeras lentas muito bem inseridas. O roteiro às vezes peca por escolhas aleatórias ou por personagens que poderiam ser melhor aproveitados, mas no geral tanto a fotografia como o roteiro cumprem bem seu papel na trama.
No geral é um filme que diverte demais e que não pode ser levado a sério, coisa que ele mesmo não faz. Já está confirmado um 3º filme pra fechar a trilogia e possivelmente haverá alguns spin-offs (queremos um filme da Stateman com Halle Barry, please????) e se torne uma grande franquia da Fox, que em meio a erros e acertos com X-men e Quarteto Fantástico, tem uma galinha de ovos de ouro nas mãos. Use com sabedoria Fox.