Filmes e Séries

Crítica | A Forma da Água

A grande sensação do Oscar 2018, com 13 indicações, A Forma da Água me chamou atenção e tive que ir ao cinema para descobrir sobre o que se tratava todo esse alvoroço.

O filme é um conto de fadas, nada convencional, cheio de romance, violência, sexo e aventura, que conta como uma humana se apaixona por uma criatura de características anfíbia.

A história começa com uma narração feita por Giles (Richard Jenkins), melhor amigo de Eliza e seu vizinho, que conta a história na forma de uma linda fábula, com uma princesa muda e um deus poderoso.

Assim inicia a trama que se passa nos anos 60, em um laboratório onde o governo americano faz pesquisas “secretas” em busca de meios para vencer a Guerra Fria. A paranóia comunista dá todo o plano de fundo a história.

Eliza Esposito (Sally Hawkins) é uma moça que sempre foi subjugada por sua condição física. Ela foi encontrada quando bebê na beira de um rio com terríveis machucados nos dois lados da garganta. Os machucados lhe renderam cicatrizes e a perda da fala.

Esposito trabalha como faxineira no laboratório com a falastrona Zelda (Octavia Spencer), antítese perfeita de Elise, ela fala pelos cotovelos e é quem sempre “traduz” o que a amiga diz, além de ajudá-la sempre como pode.

Em um dia como qualquer outro de trabalho, as duas vão até uma área fechada, onde o acesso é restrito. Ao adentrar nessa sala as duas se deparam com uma estrutura toda preparada para receber alguma coisa aquática. Em poucos minutos elas conhecem o chefe do departamento científico Dr. Hoffsteller (Michaek Stuhlbarg) e o agente especial Strickland (Michael Shannon), que chega ao laboratório trazendo uma criatura capturada na Amazônia, que era adorada como um deus.

Foi amor à primeira vista e logo a Eliza começa a procurar meios de se comunicar com a criatura (Doug Jones) e de entender o que ela é. Por outro lado o agente Strickland, um ser repugnante, também se interessa por Eliza, mas como um fetiche. Um triângulo bem peculiar. Uma mulher que se apaixona por um monstro, mas que é desejada por um outro tipo de monstro.

O filme é dirigido por Guilhermo del Toro, um diretor autoral que pensa em cada detalhe de seus filmes e cada aspecto apresentado no longa é um deleite para a imaginação. A perfeita combinação de efeitos especiais, figurinos e trilha sonora transportam o espectador para um plano onde aquilo tudo realmente poderia ter acontecido.

Claramente inspirado em O Monstro da Lagoa Negra, clássico do cinema de terror de 1954, o diretor, que também escreveu o roteiro junto com Vanessa Taylor, o filme poderia até ser uma sequência do mesmo, com a pegada fantasiosa de Del Toro.

A fotografia está incrível, com movimentos sutis de câmera e uma coloração que remete ao verde, é impressiona em todas as cenas que envolvem a água. Ah, a direção de arte, usa e abusa do verde também, seja nas roupas, cenários, objetos, até a gelatina e a torta são verdes, exceção feita a cor Vermelha, que vai se incorporando do figurino da protagonista conforme a paixão a consome. De uma simples faixa de cabelo ao look completo, ao final do filme, quando está entregue ao amor.

Apesar de ser uma fábula sobre amor, o filme é ousado e cheio de alegorias. A água é o ponto que os une. Eliza usa a água pra cozinhar seus ovos, ela se masturba dentro da água, as cenas de maior violência acontecem sob a chuva e as goteiras em seu apartamento quando as coisas começam a dar errado só são alguns exemplos. Algumas cenas carregam temas como racismo, misoginia para uma camada tão lúdica, que para compreender toda a profundidade apresentada ao longo das pouco mais de 2h de filme, é necessário estar aberto a novas perspectivas.

O sonho de Eliza é ser notada, é viver como nos filmes que ela assiste e um grande momento do filme foi uma protagonista que não fala, se imaginar em um musical, fazendo uma referência a cena de Fred Astaire e Ginger Rogers em Let’s face the music and dance de 1936, reforçada por uma trilha sonora espetacular e a fotografia em preto e branco.

Com certeza A Forma da Água entrou no meu ranking de melhores filmes de 2018, acho até que entrou para o ranking de melhores da vida. É espetacular e forte concorrente ao Oscar deste ano.

Indicações ao Oscar:

Melhor filme – Guilhermo del Toro, J. Miles Dale
Melhor atriz – Sally Hawkins
Melhor ator coadjuvante – Richard Jenkins
Melhor atriz coadjuvante – Octavia Spencer
Melhor diretor – Guilhermo del Toro
Melhor trilha sonora original – Alexandre Desplat
Melhor roteiro original – Guilhermo del Toro, Vanessa Taylor
Melhor fotografia –  Dan Laustsen
Melhor montagem – Sidney Wolinsky
Melhor figurino – Luis Sequeira
Melhor mixagem de som – Brad Zoern, Glen Gauthier, Christian T. Cooke
Melhor direção de arte – Jeffrey A. Melvin, Shane Vieau
Melhor edição de som – Nathan Robitaille, Nelson Ferreira

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