Há muito tempo não entrava em uma sessão de cinema como um “civil”, afinal em meio a tantos filmes de super-heróis, adaptações cinematográficas de universos como Harry Potter, LoR ou Star Wars, acabo sempre conhecendo a origem, os personagens ou mesmo a direção que o enredo irá tomar. Assistir Extraordinário foi como me sentir pelado no Alaska, já que não li o livro, não conhecia a história e apenas vi o trailer, sem prestar muita atenção, em meio a tantas sessões assistidas em 2017. Confesso que ao saber da premissa do filme, fiquei inclinado a assistir e me permiti apreciá-lo de alma nua. Que feliz foi esta decisão.
Digo feliz porque foi uma das experiências mais intensas e dolorosas que já tive. Não pela qualidade do filme, antes fosse. Mas foi como se eu olhasse pra um espelho e me visse em cada personagem que entrava na história.
Quem nunca quis enfiar a cabeça dentro de um capacete de astronauta? Esquecer os problemas, ou melhor, esconder os problemas das pessoas. E quando paramos e descobrimos que nosso capacete pode ser um sorriso. Sim, um sorriso! Tentamos camuflar nossos sentimentos, enfrentar ou fugir dos nossos medos, ignorar decepções todos os dias. As vezes só levantamos a cabeça, fingimos que não é com a gente e sorrimos.

Auggie(Jacob Tremblay) faz isso o tempo todo. Um garoto fã de Star Wars em seu primeiro dia de aula, que tem que enfrentar seus medos, ser aceito pelas pessoas, fazer amigos, superar traições, aceitar que os amigos as vezes erram, saber desculpar quando alguém é babaca mesmo não querendo ser… Você me diz agora “mas essa é a vida, passo por isso todos os dias”, pois é, talvez a única diferença entre você e o Auggie seja o fato dele ter passado por mais de 20 cirurgias e ter deformidades físicas, mas que se colocadas na balança não o tornam uma pessoa mais fraca e sim mais forte.
Não só Auggie, mas cada personagem lida com seus problemas de forma parecida. Via, sua irmã mais velha que aprendeu a ser deixada de lado, Miranda, a melhor amiga de Via, que só queria ter uma família como a da amiga, Jack, o melhor amigo que acaba se deixando levar por momentos e falhando quando o seu amigo mais precisa, ou a até mesmo Julius, afinal uma criança pode fazer coisas ruins por raiva, às vezes por ciúmes ou somente pra aparecer, afinal todos querem se sentir importantes.

O filme, dirigido por Stephen Chbosky, toca em algumas feridas profundas para o expectador, mas ao mesmo tempo não se aprofunda em questões como o Bullying. Seu porto seguro é a emoção. A narrativa nos conduz a sermos empáticos ao personagem e seus relacionamentos, quando não estamos chorando (80%), estamos rindo ou os dois ao mesmo tempo.
Julia Roberts e Owen Wilson foram brilhantemente escalados para seus papeis, eles sabem que não são as estrelas de Extraordinário e entregam o roteiro, que é muito simples, com maestria valorizando ainda mais a jornada de Auggie. Já Jacob Tremblay, depois de brilhar em O quarto de Jack, tem uma atuação fenomenal mesmo com a dificuldade de expressar, em meia a tanta maquiagem, usa o tom de sua voz e nos transmite alegria e tristeza de forma instantânea.

Enfim, o filme valeu cada centavo do ingresso, cada lágrima em meu rosto, cada sorriso e me mostrou que as vezes um filme só precisa emocionar, mesmo na simplicidade de uma criança ou na complexabilidade que é viver com nossos problemas todos os dias, sem ter o nosso capacete de astronauta. Em minhas críticas, fico muitas vezes preso em ver as falhas ou em exigir critérios técnicos, mas hoje não, hoje me permito apenas sentir o que filme me trouxe. E esse sentimento é extraordinário!