Se imagine vivendo um mesmo momento de sua vida por várias vezes, tendo a possibilidade de mudar uma escolha que já tomou, mas para isso você precisa morrer. É dessa linha que parte a história de Boneca Russa, nova série da Netflix protagonizada por Natasha Lyonne (Orange is the New Black).
Composta por 8 capítulos de 25 minutos cada, assisti a série em 2 dias. Não sou muito de maratonar, mas Boneca Russa proporcionou isso seja pela dinâmica da trama, assim como a curiosidade em saber a conclusão da história de Nadia, programadora de games que está vivendo eternamente a noite de sua festa de aniversário.

De uma temática aparentemente nem tão original, a grande sacada da série está na construção da mente de Nadia, e nossa crescente conjunta com ela. Passamos de um momento de surpresa no episódio 1 e 2, a curiosidade no episódio 3 e 4, a aceitação e adaptabilidade no 5 e 6, e no confronto em busca da solução no 7 e 8.
É uma história fechada que funciona bem para o propósito exposto, sendo desenvolvida a cada camada, como se fosse literalmente uma boneca matrioshka, se revelando a cada nova abertura.
Quando comparo a série em ser mais uma com o selo “isso é tão Black Mirror”, faço isso por conta de sua ousadia em tratar temas atuais com possibilidades bizarras, fazendo a nossa mente pirar caso aquilo acontecesse de verdade.
E se pudéssemos reviver um momento de nossas vidas?
O que mais me surpreendeu em Boneca Russa, foi justamente a capacidade dela desapegar de tal fórmula, e poder criar a partir de uma essência já construída, algo novo e que funciona tão bem para a safra de produções originais do serviço de streaming.

A inserção de personagens coadjuvantes na vida de Nadia é fundamental para entendermos o propósito da série, nos levando de um mundo futurista bizarro para uma discussão filosófica que envolve existencialismo, aceitação e o convívio humano.
É inevitável a trilha sonora não ficar na sua cabeça, principalmente por conta de Gotta Get Up, de Harry Nilsson, que é reproduzida a cada “nova vida” de Nadia. A fotografia funciona bem com o trabalho em ambientes noturnos, aonde se passa quase toda a série, mas não chega a ser destaque perante a atuação de Natasha.

Fico muito feliz em dizer que além do enredo, o ponto alto de Boneca Russa é Natasha Lyonne, que além de produzir a série, atua de forma brilhante, trazendo ao espectador o sentimento vívido de sofrimento, emoção e raiva, durante a saga da personagem.
Com isso, a Netflix nos traz um drama com tons de comédia e romance, e que no fim me serviu muito bem como uma outra forma de ver momentos da vida. Afinal, nosso destino pode estar aonde você menos espera, até mesmo do seu lado.