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Ares (Netflix) | Entendendo a série

Você pode achar estranho eu não começar um texto como crítica, resenha, review ou coisa do tipo, mas Ares merece algo diferente, assim como a série é.

O novo terror psicológico da Netflix é uma produção holandesa, e chegou no hall das séries originais de forma bem sutil, mas me chamando a atenção através do pôster em uma de minhas andanças pelo serviço de streaming.

A sinopse da série é simples, mas atraente. “Para fazer parte da elite de Amsterdã, uma universitária ambiciosa entra para uma sociedade fechada sem saber do segredo terrível que lá se esconde.” Pronto, a minha paixão por Dan Brown e Robert Langdon despertou lá no fundo, e eu decidi encarar a série.

O primeiro fato que me chamou a atenção é que a série era bem compacta. 8 episódios de 30 minutos cada um, era possível maratonar, e assim levei dois dias para conhecer essa história um tanto quanto bizarra, mas que preciso contar a vocês.

A história de Ares se passa toda em Amsterdã e conta como Rosa, estudante de origem humilde, conhece a sociedade de Ares através de Jacob, um amigo da universidade que acaba lhe apresentando esse mundo, sem ele mesmo querer.

A mãe de Rosa requer cuidados especiais, pois sofre um transtorno mental que por vezes pode levá-la a cometer fatos impensáveis, como até mesmo tentativa de suicídio. Por conta disso, a garota divide a rotina entre a universidade e sua casa, sem criar vínculos sociais mais fortes. Jacob surge para quebrar isso, em algo que poderia vir a se tornar irreversível.

A garota é recrutada em certa situação a participar da sociedade secreta de Ares, e na primeira impressão tem de passar pelo rito de iniciação, envolvendo marcação na pele a fogo, privação do mundo externo e submissão aos líderes da seita. Mas, a partir da apresentação desses mistérios tudo começa a mudar.

A série tem um roteiro um tanto quanto confuso e arrastado para a proposta. Eu a princípio achava que 8 episódios de 30 minutos era um tempo bom para desenvolvimento das coisas, mas pelo que o roteiro entregou, penso que um filme de pouco mais de 2 horas, seria bem suficiente.

As atuações não encantam. Jade Olieberg se esforça no papel de Rosa, mas é praticamente a andorinha solitária em meio a um elenco que pouco se destaca. A fotografia da série é belíssima, escura na medida certa pelo tom sombrio da trama, se destacando em certos momentos em cenas de alucinação, com algo semelhante ao mundo invertido de Stranger Things.

SE VOCÊ NÃO VIU A SÉRIE E NÃO QUER TOMAR SPOILERS DA TRAMA, PARE ESSE TEXTO POR AQUI!

Me desculpem aqueles que não gostam de spoilers, mas eu avisei. A trama dessa série precisa de explicações, o que pode fazer dela genial ou não. Se você assim como eu viu a série, deve estar se perguntando sobre alguns fatos que aconteceram no desenrolar. Vou buscar explicar alguns deles:

O vômito de Rosa e o poço da Ares

Por diversas vezes durante a série, vemos que Rosa passa a vomitar um líquido preto, algo quase como um óleo encorpado. A ação é dita como oferenda pelos membros mais experientes da Ares, e depois acabamos descobrindo o que de fato ele é: a culpa.

A série faz uma forte crítica implícita contra a desigualdade de classes e a supremacia rica da Holanda. A ação do vômito funciona como uma metáfora a expelir a culpa pelos pecados cometidos, e isso alimenta um poço central na sede da Ares. Esse poço alimenta uma criatura intitulada Beal, mas até então não vista por nenhum dos membros novatos.

Os dedos de Jacob

Logo no início da série, vemos uma cena que Jacob foge do rito de iniciação na seita, e nisso ele encontra uma misteriosa porta. Ao encostar na parede existente por trás dessa porta, seus dedos são praticamente consumidos pela substância que existe ali. A substância é a culpa, a mesma que habita o centro da sede e que alimenta Beal.

A partir disso, o toque de Jacob é responsável por devolver a culpa para as pessoas que têm contato com ele, e por isso motivar 3 suicídios ao decorrer da série. Ao seu toque, a cena muda para o subconsciente da pessoa afetada, mostrando o pior fato de seu passado, aquele que carrega a maior culpa, e com isso levando ao suicídio por entrar num estado de insanidade.

A mãe de Rosa

Outro mistério na série inteira é o que aconteceu para a mãe de Rosa chegar até o estado insano que ela se mantém até hoje. No episódio 6 descobrimos que a mulher fazia parte de Ares, e o contato com Beal a deixou naquele estado até hoje.

Ela tenta evitar ao máximo fazer com que a filha tenha o mesmo destino que ela, mas o hospital é financiado pela Ares aparentemente, para que mantenha a mulher calada e afastada de toda influência externa.

Mas porque Rosa não é afetada pelo Beal?

Aí que está a grande virada da série. Rosa não tem sangue puro holandês, e conhecemos na série seu pai que é negro. Por conta disso, a culpa que ela carrega não foi construída pelo mal elementar, que vem desde a época da escravidão e grandes conquistas holandesas no período colonial.

SIM! A grande questão da série é ser uma crítica contra o imperialismo holandês. Beal é uma criatura que toma forma com toda a culpa das famílias ricas que o alimentam. Ao final inclusive, Rosa entrega o seu corpo para que ela se torne Beal, e assim acabar com Ares de dentro para fora, trazendo a justiça para os oprimidos ao longo da história.

E a velha? Quem é?

Me desculpem, mas isso eu não faço ideia de como explicar. Talvez seja uma ponta para outra temporada, mas foi um elemento jogado nos episódios finais sem contexto nenhum, o que faz que a série desperdice tanto potencial que tinha de explicar melhor suas motivações.

Ares não é de toda ruim, mas também não é boa. Tem uma motivação excepcional, com um tema original na forma que foi tratada, mas a execução é catastrófica, com um roteiro cheio de buracos, deixando de lado o potencial maior que teria de ser um grande sucesso da plataforma.

Assistiu a série e tem algo algum ponto para discutir ou que tenha uma opinião diferente? Comente!

8 Comments on “Ares (Netflix) | Entendendo a série

  1. Série bosta faltando muitas respostas perdi meu tempo assistindo roteiro péssimo… também esperar oque de uma producao holandesa…

    1. Oi Rafael! Concordo contigo que o roteiro tem muito que melhorar, se tivermos de fato uma segunda temporada. Há muitas produções européias boas, mas essa se concluir assim, deixará a desejar. Grande abraço!

    2. Falando sobre as produções holandesas, Ares é a primeira que vejo. Você tem alguma outra que pode indicar para que eu conheça e possa avaliar também? Obrigado 🙂

      1. Também tem a questão da senhora presa desde que o Mauridis, ou sei lá o que. Ele era criança e ela continua igual, mesmo tendo passado anos e ele já ser adulto. Não entendi nada hahaha

    3. Decepcionante , achei que renderia mais , a questão de vomitar um ovo e a imagem do ganso , me bugou a mente … sobre a velha na cerimônia onde a mãe de rosa estava presente , tinha a mesma velha acorrentada , não entendi nada .

      1. Oi Anderson e Hildecio! Realmente, pelos comentários que tenho recebido sobre a trama, tudo leva a crer que a velha representa tudo que a Holanda foi construindo durante os séculos. A questão é que não é muito bem desenvolvida a sua construção e porque mantê-la presa ali. Da mesma forma, é uma boa sacada. Abraços!

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