Em Aprendendo a Cair somos apresentados a Noel, um jovem com deficiência mental que sonha tocar guitarra e adora o AC/DC. Ele vive com sua mãe (a qual é muito apegado) em Berlim, mas tudo muda com sua morte repentina. Ainda no hospital, Noel descobre que não poderá mais viver em seu antigo apartamento e é levado por um estranho homem de bigode para uma cidade distante, Neuerkerode.

O quadrinho mostra o cotidiano da vila, ainda que de forma ficcional. Na vila vemos a chegada de Noel, sua adaptação e a criação de vínculos com seus novos vizinhos. É fascinante observar o processo de entendimento e amadurecimento do protagonista, enquanto também assistimos as descobertas e sentimentos que começam a surgir. Outro fator interessante da experiência de ler Aprendendo a Cair é que de alguma forma a minha leitura foi guiada pelo comportamento dos personagens. Eles são bem diferentes e isso conduz a história.
Noel é calmo, carinhoso e muito criativo. Valentin, provavelmente se enquadra no aspecto autista, ele é inteligente, bom com datas e horários, e um pouco enérgico e barulhento, ler suas falas acabavam tornando minha leitura mais intensa e ágil. E Alice, que acredito ser bipolar, é extremamente intensa e era como um turbilhão de informações entrando com tudo no meu cérebro, a relação que ela tenta estabelecer com Noel é o ponto divertido da história. A narrativa transita muito bem entre a comédia e drama, com passagens divertidas, causadas pela inocência dos personagens, e outras emocionais como a história de Irma, uma sobrevivente da segunda guerra.

Comecei lendo a história achando que saberia mais sobre a vila, porém ela acaba abordando o comportamento dos moradores nesse ambiente, no entanto, creio que ele não trata tudo de maneira profunda, algumas passagens são feitas de forma tão rápida que perguntas ficam sem respostas, o que poderia ser feito utilizando conversas em segundo plano, por exemplo. De qualquer forma, isso não atrapalha em nada a mensagem do quadrinho.
Mikael Ross trabalha com bastante cor e ele as usa para estabelecer as emoções do momento, tudo é feito de maneira delicada usando lápis de cor (onde intensifica sombras e texturas) e praticamente nenhum contorno, o que deixa tudo mais real.
Neuerkerode é real e abriga a Fundação Evangélica de Neuerkerode que foi fundada pastor Gustav Stutzer, o médico Oswald Berkhan e a cidadã de Brunswick, Luise Löbbecke, a fim de fornecer um lar para pessoas doentes e deficientes. Atualmente, aproximadamente 1.500 pessoas vivem e trabalham na cidade. 800 deles têm deficiência. Juntos, eles fazem de Neuerkerode um lugar onde inclusão não é apenas uma palavra.

Ross ficou imergindo em Neuerkerode por dois anos, a fim de apreender cada detalhe e particularidade de seus habitantes, e o resultado é uma história que emociona, ensina e diverte seus leitores. Seja corajoso(a) e Aprenda a Cair!