Literatura

Apocalipse Segundo Fausto | Resenha

Apocalipse Segundo Fausto é o novo livro do autor Marcos DeBrito, autor de O Escravo de Capela e a Casa dos Pesadelos. Diferente das outras obras, neste livro Marcos nos apresenta uma trama muito mais próxima da nossa realidade, diferente da época da escravidão ou dos males de uma casa mal assombrada.

Em Apocalipse Segundo Fausto, somos apresentados a Fausto, ator que vive a muitos anos o papel de Jesus Cristo durante encenações teatrais, sendo reverenciado pela mídia e pela Igreja como o representante digno do filho de Deus na Terra. A adoração a Fausto é tanta, que o mesmo é regrado a seguir apenas boas práticas em seu dia-a-dia e não fazer grandes aparições públicas, visto que sempre será reconhecido como o Salvador.

Tudo muda quando em uma das tantas representações da Paixão de Cristo, Fausto não consegue finalizar a apresentação, sendo interrompido antes da Ressurreição por conta de um fenômeno climático que atrapalhou a sua representação. Desde então, Fausto se vê perseguido pelo fato de não entregue por completo sua grande obra, e tudo se complica quando algo drástico muda em seu visual: grande pintas começam a crescer em sua testa.

Não eram poucos os livros dos profetas que prometiam a segunda vinda de Cristo às vésperas do fim do mundo, e, se essa profecia estivesse atrelada à chegada de um evento cataclísmico semelhante ao dilúvio de Noé – como alertado por Mateus -, orações seriam bem-vindas.

Só que não para mim. Agora, mais do que nunca, eu queria recusá-las.

Marcos DeBrito fez um trabalho impecável de estudo para Apocalipse Segundo Fausto, e traz fatos muito bem trabalhados na trama, seja pela visão religiosa ou filosófica de Jesus e dos fatos bíblicos na nossa realidade. Toda essa discussão é mesclada com uma pitada de astronomia e ciência, fomentando ainda mais a discussão religião x ciência.

No meu ponto de vista, o ponto alto da trama se dá pela discussão do extremismo religioso representado pela adoração a figura de Fausto, e a forma bizarra que as pessoas ficam cegas por unicamente seguir uma pessoa, que supostamente é o novo enviado por Deus. Em contrapartida a isso, o autor faz questão de deixar bem evidente o lado humano de Fausto, seja pelas conversas com seu agente Elias, ou pelas rotineiras consultas a sua psicóloga, Laila.

A leitura de Apocalipse Segundo Fausto é pesada em alguns momentos, principalmente nos momentos de discussões que colocam em jogo a figura de Jesus nos tempos modernos, assim como em situações que o autor nos leva para fora do plano terreno. Em alguns momentos, visitamos a mente de Fausto e os seus sonhos, onde ele conversa consigo mesmo e com criaturas maléficas que buscam afetar as suas relações na Terra.

Visualmente, o livro é extremamente bonito, com capa dura e verniz localizado, fitilho para marcação de página e lateral das páginas em vermelho, dando um ar sombrio na prateleira. A estrutura de separação dos capítulos nas 190 páginas também é muito interessante, visto que são divididos em pequenos grupos, tais como a divisão da Paixão de Cristo em atos.

Apocalipse Segundo Fausto traz um tema muito delicado a ser trabalhado, mas cumpre a proposta de dar uma visão jamais imaginada para a Paixão de Cristo, bem como a representação da figura de Jesus nos tempos modernos. Afinal, será que a humanidade estaria pronta para um evento como esse?

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