Filmes e Séries

3% – 4ª Temporada | A conclusão de uma jornada | Crítica

4 anos atrás a Netflix anunciava sua primeira produção nacional. 3% chegava ao catálogo questionada sobre qual o potencial que poderia atingir, num momento que incertezas prevaleciam, seja pelo sucesso do streaming, ou até mesmo pela repulsa que o produto nacional traz. A série soube superar, e hoje conclui uma jornada de sucesso.

Como eu já havia comentado acerca das outras temporadas, 3% se tornou um sucesso mundial, maior do que no próprio país de origem – O que de fato é entristecedor. A produção que aborda um futuro em que a humanidade é dividida entre Continente e Maralto, ou melhor dizendo, pobres e ricos, conseguiu nos mostrar em 4 temporadas todo um cenário que infelizmente é mais real do que poderíamos imaginar.

Você faz parte dos 97%

No começo, 3% parecia que ia nos mostrar uma obra de ficção, em que pessoas eram manipuladas através de um processo seletivo futurista, aonde por mais que a destreza e inteligência prevalecessem, a base de tudo era a tecnologia que o Maralto poderia proporcionar, mas a chegada da 4ª temporada esfrega ainda mais na nossa cara, que o mundo é muito além do que um sistema operacional que pode mandar ou desmandar.

O conceito de homem contra máquina que já foi tanto abordado em outras produções, atinge um patamar superior em 3%, que ousa mostrar que o futuro não são as máquinas por si só, mas sim pessoas corrompidas por um sistema corrupto e injusto, em que o único foco é garantir a superioridade perante uma maioria.

Isso ficou evidente durante a jornada que a série da Netflix nos mostrou, desde o início com o carrasco Ezequiel, passando pela chefe de segurança Marcela, e atingindo agora o seu pior cenário com André. Pior do que tá ficou sim…

Nossa vida é uma prova do Processo

A base de tudo na vida do universo de 3% está nas famílias do Continente prepararem os seus filhos e jovens para o tão esperado Processo, e assim conseguirem alcançar uma vida melhor no Maralto, cheia de luxos e regalias, enquanto os demais 97% que se mantém no Continente têm que viver a margem da sociedade, onde viver é uma dúvida a cada noite.

As provas do Processo foi algo que moveu o drama da série durante todas as outras 3 temporadas, e na 4ª isso não foi diferente, mas foi levado a um patamar jamais alcançado. Além das provas de um novo Processo ainda vigente, os personagens que estão fora dele ou já passaram por isso, também acabam vivenciando provas impostas pela realidade que vivem, aonde o resultado não é apenas uma eliminação, mas sim a mudança de suas vidas.

Sem contar que além das provas fora do Processo, aquelas que fazem parte dele sob a tutela de André, ficam ainda mais cruéis, colocando a vida dos candidatos a risco, mais ainda do que tudo que já vimos até então. André foi construído como um vilão de forma esplêndida desde o ano anterior da série, e agora atinge o ápice que todo personagem maquiavélico pode conseguir.

A esperança da Concha e da Causa

Que o Processo segue não é novidade, mas a esperança motivada pela Concha e movida pelos ideais já adaptados concebidos pela Causa, seguem firmes na 4ª temporada. A liderança de Michele mesmo que questionada durante a temporada anterior, chegam a um ponto que contagiam a todos, e a união será a única solução para o bem maior.

Joana é mais uma vez a dona da série, e merece uma estátua no Continente, no Maralto e onde quer que ela vá. Todo o elenco teve uma evolução astronômica desde o 1º ano, mas é de tirar o chapéu a entrega de Vaneza Oliveira a esta série. Partindo de uma personagem que ostenta o selo girl power com louvor, acabamos acompanhando a jornada de Joana sofrendo pelas suas falhas e torcendo por suas conquistas.

Não só os bonzinhos merecem destaque de atuação. Bruno Fagundes é espetacular no papel de André, e aquele que jamais imaginamos ser um vilão a altura de Laila Garin como Marcela, surpreende a todos entregando um dos melhores personagens da série, daquele nível que se você vê na rua, tem vontade de xingar pelo mal que fez ao Continente.

Uma conclusão concisa

Durante os 4 anos, 3% nos apresentou uma das melhores histórias que eu já pude ver. Um drama social ambientado num futuro de incertezas, que conseguiu mesclar conceitos políticos tão atuais que dá para até dar nomes aos bois quando comparamos a atuação de um personagem ou outro. Era hora de terminar essa jornada, e foi feito da melhor forma possível.

Eu torço que 3% tenha o reconhecimento merecido pelo público mesmo após o seu final. Não só por ser uma produção nacional que merece e muito ser valorizada pela qualidade apresentada de roteiro, atuação, fotografia e direção, mas muito mais pela trama e os questionamentos que as desavenças entre Maralto e Continente nos motivam.

Toda série que chega ao seu fim me deixa uma frase marcante na cabeça, e em 3% a frase vem de uma canção:

O passado é uma roupa que não nos serve mais.

Obrigado Netflix por acreditar no projeto de Pedro Aguilera e trazer ao público uma obra que escreveu sua história no entretenimento, mostrando que sim, o produto nacional tem que ser valorizado. Vida longa a 3%!

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