Filmes e Séries

Review | Black Mirror S04E03 – Crocodile

“Efeito bola de neve: Ocorre quando não há acompanhamento de um problema, seja ele considerado pequeno ou grande, que futuramente acarretará consequências maiores e mais complexas. Algo que aparentava ser pequeno ou não muito problemático, se não resolvido no tempo certo, desenvolverá situações adversas que podem prejudicar a produtividade e soluções.”

E é exatamente disso que se trata o episódio Crocodile. Querer resolver um erro, cometendo outro. Problema em cima de problema. Apenas para ter uma tranquilidade momentânea você comete outro erro, um  ciclo. E no fim, você se encontra sem saída. Não podemos fugir do passado.

O episódio começa com o casal Mia (Andrea Riseborough, Oblivion) e Rob (Andrew Gower, Outlander) bêbados, pois acabaram de sair de uma balada. Distraído, Rob atropela um ciclista que morre na hora.

Assustados e com medo, Mia insiste em querer pedir ajuda e falar para as autoridades sobre o ocorrido, mas Rob não aceita, pois sabia que não estava sóbrio e seria preso. Para não deixar o corpo na estrada, ele coloca o corpo em um saco de dormir e o joga no mar com ajuda de Mia, tornando-a sua cúmplice.

Quinze anos se passam, e Mia se torna uma arquiteta que construiu uma família e uma carreira bem sucedida, enquanto Rob se encontra em processo de recuperação de seus vícios, e na batalha de uma vida mais honesta.

Por conta da culpa que lhe persegue, ele deseja enviar uma carta anônima para família do ciclista, explicando o acidente. Mesmo dizendo que a carta é anônima e que Mia não será citada, ela se descontrola e não aceita. No passado ela queria fazer o correto, mas aquela Mia não existe mais. Expor o passado já não era o certo para seu momento de vida. Ela tem o que perder, o que arriscar e até realça como essa atitude afetaria seu filho de nove anos. Nessa situação, em uma atitude desesperada, mata o seu ex para preservar seu status.

Nesse meio tempo, somos apresentados a Shazi (Kiran Sonia Sawar, Murdered by My Father), uma funcionária da Realm Seguros,onde seu trabalho consiste em fazer perícias para pagamentos de apólices, que como recurso assiste memórias alheias com seu relembrador (the recaller). É um método interessante, quem nunca pensou na possibilidade de acessar memórias de outras pessoas apenas colocando um chip?

Shazi é responsável por um caso, onde um músico famoso foi atropelado por um carro de pizza automatizado, e pede o pagamento da apólice, já que não pode sair em tour e alega que o veículo estava em alta velocidade. Ela precisa saber exatamente a velocidade em que o carro se encontrava e para isso, vai investigando a todos que podem ter presenciado esse momento.

Bem, já perceberam onde esta história irá chegar, não é mesmo?

Como acidente com carro de pizza aconteceu em frente ao hotel que arquiteta assassinou seu ex, Mia vira uma testemunha e o confronto entre elas acabou acontecendo. Shazi acessa as memórias de Mia, acaba vendo os crimes cometidos por ela. Ao perceber que foi descoberta, vemos o desespero de uma mulher querendo preservar sua família, a perita se vê sem escapatória e utiliza a única chance de se salvar, dizendo que não denunciaria Mia, e que até mesmo a lei não permitiria tal ato, sendo obrigada a ter sigilo absoluto sobre memórias não envolvidas no caso.

Ao ser questionada Shazi diz ninguém sabia de seu paradeiro, mas Mia, uma mulher desconfiada (e deveria ser), não acredita nas palavras dela e usa o relembrador a seu favor, e só para variar, ela se descontrola.

Na sequencia há a previsível morte do marido de Shazi (até o momento, o assassinato mais bem feito no episódio), já que arquiteta se vê encurralada e não imagina outra maneira de se manter, a não ser eliminar de vez todas as testemunhas. Foi quando um choro ecoa na casa, e neste momento, meu coração treme e se enche de tristeza, aparece o bebê do casal. Que atitude Mia tomaria em relação a isso? Pois é… num universo Black Mirror onde existe relembrador qualquer testemunha é perigosa, e deve por fim, ser eliminada.

A parte mais triste de toda essa cena, é quando é revelado que não tinha a necessidade do bebê morrer, pois a criança era cega. Ela tomou uma atitude drástica sem a maior necessidade de tal ato, o maior sacrifício no final, nem era necessário. Ou melhor, qual dos sacrifícios nesse episódio realmente foram NECESSÁRIOS? Mia desde o começo se mostra uma pessoa descontrolada, com complexos que não foram explorados na trama. Qual o real motivo dessa carnificina? Será que realmente é por conta de status e medo do rumo que sua vida tomaria? Tantas questões que poderiam ter sido mais exploradas, e que terminaremos sem respostas. Mesmo assim, não perde a real essência do episódio.

E também, por que Crocodilo? Muitas teorias se davam a série Fargo, outras que o próprio autor não teve um motivo específico para nominar o episódio, apenas quis!
Mas em minha teoria, acredito que muito representava as lágrimas de crocodilo de Mia. Ela matava, se sentia mal, vomitava de nojo dela mesma, e logo em seguida chorava. Mas não era um choro que você se sensibilizava com a personagem. Era um choro frio e sem arrependimento algum.

A verdade sempre prevalece, use isso como um mantra em sua vida! Mesmo que nesse episódio, a solução foi utilizar relembrador em um porquinho-da-índia para ser solucionado. Um final bem questionável, porquê afinal, um porquinho-da-índia se lembraria e raciocinaria tal ato? Mesmo que eu não entenda como funciona a mente desses bichinhos, as autoridades conseguirem encontrar respostas na memória dele foi tanto quanto duvidoso.

Na cena final, Mia acompanha a peça musical de seu filho, e a letra da música cantada resume EXATAMENTE tudo. Temos uma escolha, podemos ser exatamente o que queremos, a decisão é somente nossa. Seremos lembrados pelas coisas que fizemos.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *