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Review | Black Mirror S04E01 – USS Callister

Chegamos a quarta temporada de Black Mirror para aquela última maratona de séries de 2017. Composta de seis episódios, cada um deles explorar uma história diferente, retratando problemas presentes em nosso cotidiano ou não. O primeiro episódio, USS Callister faz uma paródia de Star Trek para contar situações do tipo “isso é bem Black Mirror”, vamos falar sobre ele.

USS Callister é a história de Robert Daley (Jesse Plemons) em um final de ano, ele é um diretor e designer de software e de personagens de um jogo sobre uma aventura espacial (Callister), um cara muito inteligente com interações sociais suspeitas. Você começa a ver o episódio e pensa que Robert é o coitado de tudo o que acontece, mas você mudará de ideia sobre isso. Já na abertura, as cores e as tomadas típicas de episódio de 1970, começam a criar um sentimento de nostalgia (alguns momentos acredite, tem algo que remete J.J. Abrams).

Robert usa suas fantasias inspiradas na TV em um imersivo jogo de realidade virtual  com “clones digitais” de seus colegas, com quem ele pode brincar e fazer o que quiser sem consequências.O drama ou horror vem do fato de que esses clones são conscientes, eles sabem que nunca podem escapar do programa de computador e estão condenados a passar a eternidade idolatrando um Deus de fantasia. Isso pode parecer sombrio, mas o tom é o mínimo que esperamos da Black Mirror.

Quando Daly conhece sua nova colega de trabalho, Nanette Cole (Cristin Milioti, sim, a mãe de How I Met Your Mother), é como o começo de uma história em que fomos alimentados em muitos filmes e programas de TV: um homem socialmente estranho se depara com uma mulher muito atraente, que realmente aprecia seu trabalho (mesmo que seja a única). Este brilho para ele, no entanto, é sabotado pelos colegas impetuosos de Daly, que advertem Cole sobre suas tendências obsessivas “assustadoras”.

Nesse ponto você ainda acha ele bonzinho, mais ai começa a mudar. Robert decide ir até o lixo de Cole para pegar a tampa do copo de café um pouco de DNA, para levar para sua casa  e criar uma réplica digital dela dentro do simulador de realidade virtual, para controlar como quiser. Conforme a cópia digital de Cole está mergulhada no simulador, tudo logo se aproxima de sua fuga de Daly.

Aquelas mudanças típicas de Black Mirror são entregues, mas não tanto como vemos nas temporadas anteriores, desenrolam-se à medida que as regras do universo de Daly se formam. A sua habilidade de silenciar as cópias digitais, tirando o rosto ou transformando-os em monstros marginalizados, o episódio é uma reflexão preocupante sobre as fantasias de poder de alívio e como a inteligência artificial pode ser e se comporta.

Sem esquecer de mencionar, Walton (Jimmi Simpson de Westworld), em uma atuação excelente, que detalha como Daly usa sua réplica para vingança contra sua versão da vida real, isso incluindo até mesmo matar uma cópia do filho de Walton diante dos olhos dele. A parte final da trama é que Cole e os demais tripulantes bolam um plano para distrair tanto o Robert digital, quanto o físico, para se libertarem. Isso inclui chantagens de Cole com sua versão física, que sem saber acaba ajudando.

No final, Daly é deixado preso no mundo que ele criou, gritando no espaço sem meios para voltar para a realidade, enquanto seu corpo da vida real está dormindo em seu apartamento. Já Nanette está em uma nova versão online de Callister, eles encontram um qualquer que se proclama o rei das batalhas espaciais. Sim, há mais de um capitão Daly por aí, mas pelo menos dessa vez Nanette pode liderar sua tripulação para outra galáxia.

Neste episódio episódio é possível perceber que nem tudo o que aparenta ser é aquilo mesmo, as aparências enganam. Temos padrões definidos na sociedade, com isso pessoas que se consideram fracassadas em algum lado da sua vida (por exemplo o pessoal), tentando buscar sucesso em outra coisa, apesar de ser profissionalmente reconhecido, como é o caso de Daly. Por conta disso, ele usa o mundo virtual para fazer coisas que na vida real não conseguiria, por se sentir reprimido, por não ser respeitado ou não ter relacionamentos sociais. Neste mundo dele, Daly é a força maior e faz o que quiser, sem ter que ser julgado por algum tipo de padrão ou norma ditada pela sociedade, este mundo virtual é uma forma de expor seus sentimentos e desejos sem remorsos ou pudor.

Falando em comportamentos, vemos Daly se espelhando em Walton em relação ao assédio, da mesma forma que Walton faz com alguma nova funcionária, Daly extravasa no mundo virtual assediando todas as personagens femininas como se fosse uma coisa totalmente aceitável ou normal. O uso do poder é um dos pontos mais usados por Daly em seu simulador, mesmo com cargo alto na empresa, ele ainda é repreendido pelo seu sócio e desconta esta frustração nas demais consciências. Um exemplo disso é quando seu sócio exige atualizações antes do previsto e Daly pede ao invés de dar uma ordem, Walton exerce também um tipo de assédio.

Infelizmente o assédio ou perseguição de pessoas como Daly é uma coisa comum, mas muitas pessoas têm medo de falar que isto acontece com medo de alguma represália, a série retrata um pouco disso. Outro ponto que vale destacar é a mudança de narrativa, transformando até então o bonzinho assim podemos dizer no vilão, mesmo com Nanette assumindo o controle, ela não quer ser chamada como capitã, apenas pelo nome mostrando que é igual aos outros e suas consciências. Um episódio para muitas reflexões, composto por um lado sombrio, reviravoltas e o que pode acontecer quando falamos de tecnologia e sobre comportamento.

O que acho desta nova temporada? Que você deveria ficar ligado nos próximos conteúdos sobre a série que serão publicados aqui no Dinastia Geek!

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