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Os Imortalistas | Resenha

E se você soubesse a exata data de sua morte? Será que isso alteraria seu destino? Será que você faria escolha diferentes?

Na New York de 1969, uma mulher que se diz capaz de prever a data da morte das pessoas chega a cidade e desperta a curiosidade dos irmãos Gold.
Varya com treze anos, Daniel com onze anos, Klara com nove anos e Simon com sete anos, resolvem visitar a vidente e ver se ela sabe mesmo das coisas. As crianças se consultaram com a vidente um a um e, após sair do apartamento da mulher, passam anos sem tocar no assunto.

1978

Saul Gold morre e mais uma vez os irmão são reunidos sob o mesmo teto, eles cuidam da mãe e dos preparativos para o funeral do pai. A noite, se sentam na sala com drinks e relembram o dia em que visitaram a vidente e cada um diz sua data, menos Simon, ele apenas diz que vai morrer jovem.

A história é dividida em quatro partes, a primeira parte é contada na narrativa de Simon, na época com 17 anos, ele vai para San Francisco com sua irmã Klara. Nessa época o local era considerado a cidade da liberdade, onde gays podiam ser quem realmente eram sem medo. Simon começa a descobrir quem ele realmente é, conhece pessoas que o ajudam a construir seu caráter e logo está fazendo parte de uma companhia de bale.

É nessa época também que um doença fatal e misteriosa começa a assolar a cidade, ser gay passa a ser motivo para ser considerado doente.

Outros caras não falavam assim com Simon. Na verdade, com outros caras Simon não conversou quase nada, e certamente não sobre sua família. mas é assim com a maioria dos homens no Castro – homens suspensos no tempo, como se em âmbar, homens que não querem olhar para trás.

1982

Agora a história é contada por Klara, com 22 anos. Ela sempre se interessou por mágica, misticismos e mistérios. Durante a adolescência trabalhou em uma loja de artigos para mágicos e acabou se envolvendo mais nesse universo, aprendendo truques e como encantar pessoas. Assim, ela começa seu próprio show e logo se vê indo para Las Vegas para performar o maior show de magica que ela poderia ter imaginado.

Mas a lembrança da família, do que costumavam ser, esta sempre presentes no seu dia e ainda tem aquele eco da vidente, sempre alertando que mais um dia se passou e a morte se aproxima.

Quando Klara tira uma moeda de dentro da orelha de alguém ou transforma uma bola num limão, ela espera não enganar, mas transmitir um tipo diferente de conhecimento, uma sensação expandida de possibilidades. A questão não é negar a realidade, mas descascar seu tecido, revelando suas peculiaridades e contradições.

1991

Agora é a vez de Daniel contar a história, ele está com 33 anos. Daniel acabou virando médico do exercito, ele faz a seleção dos jovens que se inscrevem para entrar na instituição. Mas desde o 11 de setembro, fica complicado se manter em um cargo onde seus princípios precisam ser deixados de lado. Ele sempre foi o irmão mais serio e todos os dias o arrependimento é seu fiel escudeiro, desde o dia em que visitaram a vidente.

Daniel parou totalmente de rezar. Ele não se preocupava por ter abandonado a religião. Afinal, não houve briga. Sua crença foi embora de livre e espontânea vontade, logicamente, da forma que um bicho-papão desaparece quando você olha de volta debaixo da cama.

2006

A ultima parte fica por conta da Varya, agora com 50 anos. Ela se tornou uma cientista renomada que está em uma pesquisa sobre hábitos alimentares com testes sendo feitos em primatas, é uma pesquisa de vinte anos que está no meio agora.

Desde que consegue se lembrar, Varya sofre com TOC, sempre foi difícil lidar com ela, para ela todos os tipos de relações são complicadas.

A letra organizada de Daniel atravessava o papel do outro lado. Varya o virou. Nossa língua é nossa força, ele escreveu. Abaixo havia uma segunda frase, uma que Daniel traçou tantas vezes que parecia se erguer tridimensionalmente do papel: O pensamento tem asas.

Nessa história duas tradições batem de frente: os Gold, judaicos tradicionalíssimos e a vidente que era cigana. De ambas as partes temos genocídios e preconceitos explorados, também conhecemos mais sobre seus costumes e crenças.

O livro conta a história de uma família, sem fantasias e romantismo, trata-se de uma ficção sobre pessoas comuns, suas relações, arrependimentos, medos e alegrias. É uma história muito completa que não deixa nada em aberto quando se chega a ultima página.

Apesar das lacunas temporais onde basicamente vemos a história apenas pelos olhos de um dos irmão, ao terminar o livro fiquei muito satisfeita com a profundidade dos personagens, a construção de cada um deles foi impecável.

Em 331 páginas, Chloe Benjamin levanta a questão sobre destino, a vida tem um curso a ser seguido e não importa o que façamos o que tiver que acontecer, acontecerá? Ou são nossas decisões que fazem da vida o que ela é?

A vida e a morte são fenômenos diretamente ligados e opostos e o livro permite ao leitor vagar por essas questões de forma pessoal e impessoal, analisando o contexto geral de nossa existência.

A edição que li foi publicada aqui no Brasil pela editora Harper Collins, é linda! Capa dura, revisão excelente e a edição conta ainda com desenhos de folhas ao fim de trechos para demonstrar a passagem do tempo, são detalhes que fazem a diferença.

Com certeza o livro entrou para o meu top 5 do ano. rs

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