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Crítica | Thor Ragnarok – Finalmente um bom filme do Thor?

Se você espera o Thor carniceiro do Jason Aaron não precisa passar deste parágrafo, afinal o Deus do Trovão do universo Marvel nunca se propôs a isto, e não ia ser no último filme da trilogia, dirigido por Taika Waititi, um diretor neozelandês conhecido basicamente por comédias, que isso ia acontecer. Aliás, o filho de Odin abandona todos os clichês vikings tão mal explorados em seus fracos filmes anteriores e nos entrega o melhor filme solo de Thor e uma das melhores aventuras da Marvel. Não, não é o melhor filme de super-heróis de todos os tempos, é um filme contido, praticamente fechado, com poucas referências ao MCU, com um humor diferenciado, irônico e que não tem vergonha nenhuma de rir de si próprio.

Ei!!! Não, pera… Como assim tem poucas referências ao MCU? E as fuckin Jóias do Infinito? E a preparação pra Guerra Infinita?

Já nos primeiros minutos o filho de Odin responde a estas perguntas, em um diálogo simples e objetivo e “segue o jogo”. O filme, acertadamente, não é um preenchedor de lacunas ou um marionete de Kevin Feige pra encaixar soluções ou referências para outros filmes do estúdio e, talvez, seja aí o pulo do gato da produção dirigida por Taika Waititi.

Taika Waititi, mesmo que em meio a conhecida fórmula marvel, impõe sua assinatura principalmente no roteiro, no time das piadas e em diálogos visivelmente improvisados, dando naturalidade a diversas situações constrangedoras. Percebe-se que deu muita liberdade aos atores e isso deixou o filme leve, afastando-se do tom forçados do dois primeiros filmes da franquia.

O cenários e a direção de arte estão incríveis. Uma experiência visual digna das melhores HQs de Odinson. Asgard, sempre tão fria, ganha habitantes (aleluia!!!) e algumas paisagens naturais, com leve referência a Senhor do Anéis. Desculpem o pequeno sacrilégio, mas claramente foi uma das inspirações aos rápidos lampejo de natureza asgardiana. Sakaar é um lixo, literalmente, mas um lixo colorido, construído com um exagero visual de qualquer filme cyberpunk dos anos 80 e Star Wars misturado as melhores ilustrações de Jack Kirby, homenageado em cada milímetro do filme. Taika e sua equipe de arte devem ter devorado dezenas de história do grande mestre.

Dado as devidas apresentações vamos à trama. Dois anos após sair da terra, Thor descobre que não é Odin quem governa Asgard e sim seu Irmão Loki. Após um confronto com seu irmão adotivo, ambos decidem procurar o Pai de Todos e em meio a uma tocante cena descobrem a maior ameaça que já enfrentaram: Hela, a Deusa da Morte.

Cate Blanchett. Uma breve pausa pra “endeusar” essa brilhante atriz. Cate está maravilhosa, tanto em beleza, quanto atuando. Entendeu perfeitamente o tom do filme e parecia ser uma veterana em filmes da Marvel. Confesso que fiquei com a sensação de querer ver mais de Hela no filme, ela podia ser muito mais explorada, mas entregou tudo que era necessário para sentir a força e poder de seu personagem. Seu rancor por Odin e o fato de sentir-se injustiçada move toda a trama do Ragnarok. Sua entonação de voz beira a psicopatia e impõe medo em todos os segundos de tela.

Por falar em força e poder, Hulk está mais forte do que nunca e a luta entre ele e Thor na arena é muito rápida, mas é fan service puro de quem já assistiu a tantos embates em animações e HQs, entre os dois brutamontes. O gigante esmeralda está muito mais “inteligente” e engraçado. É amado em Sakaar, diferentemente da terra e é essa a única ligação com Planeta Hulk. Seu papel na trama é o mesmo de sempre: ESMAGAR! Já como Banner, Mark Ruffalo mostra-se um ator que sempre entrega grandes performances e não seria diferente aqui. Sua parceria com Chris Hemsworth nos presenteou com cenas hilárias e a química entre os dois melhora a cada filme.

Cris é outro que surpreende e entrega algo totalmente diferente do que vimos nos outros filmes. Thor, não se leva a sério, afinal nunca foi um Deus Nórdico muito fiel, mas neste filme ele rasga todo desenvolvimento já feito e assume uma persona bobalhona, às vezes exagerada, mas que encaixa muito bem em toda a história. Ele tenta ter boas idéias e ser um líder, mas falha miseravelmente, ele não é Steve Rogers e não consegue motivar uma equipe, mas a seu jeito consegue despertar em cada um de seus amigos um motivo pra lutar. Cris nunca foi o melhor ator de ação, mas na comédia ele tem um domínio incrível. Thor tem um arco de descobertas e no final começa a entender que alguns sacrifícios precisam ser feitos. Thor termina o filme melhor do que começou e com muito menos cabelo. Seu cabelo aliás rendeu um dos melhores Cameo de Stan Lee. Hilário.

Outro ponto importante é o elenco de apoio. Jeff Goldblum como Grão Mestre está absurdamente caricato e construiu um personagem cheio de personalidade. Tessa Thompson, como Valquiria entrega uma guerreira desiludida, “manguaceira” e cheia de personalidade. Ela tem uma ligação importante com Hela, que a motiva a entrar na luta ao lado de Thor, apesar de sua opinião mudar muito facilmente. Loki, apesar de sempre adorado, não tem função muito relevante no filme, parece meio perdido e é mais uma escada para as piadas de Thor do que importante pro desenvolvimento da história. É sua aparição mais apagada no MCU, mas rendeu bons momentos com o líder de Sakaar e o Mago Supremo. Sim, tivemos rápidos momentos de tela de Dr. Estranho, que mostrou um domínio de magia muito superior ao seu filme de Origem e castigou Loki de maneira hilária. Já o Executor tem um arco previsível, que podia ser melhor explorado, mas sejamos sinceros, ele não nunca foi lá “o cara” nos quadrinhos e sua função na trama foi pontual e certeira.

No geral, Thor Ragnarok é um filme divertido e empolgante e um dos melhores filmes solos da Marvel. Não é um filme de ação cheio de piadas e sim justamente o contrário, é uma comédia cheia de ação e talvez este tenha sido o grande acerto do filme. Não engana o espectador em nenhum momento, desde os primeiros minutos ele é bem humorado e cheio de cenas empolgante. Ele tem erros? Lógico que sim, como todo filme de heróis, falta profundidade em alguns personagens, tem exageros visuais, cenas previsíveis e algumas piadas passam do ponto. Mas se você foi ao cinema querendo o Ragnarok Nórdico, foi você quem se enganou. A Marvel nunca prometeu isso, é apenas uma aventura de quadrinhos e isso é o que deveríamos esperar de um filme baseado em Kirby e Lee. Condicionar que cada lançamento do gênero seja o melhor filme de heróis de todos os tempos não parece ser o mais coerente, às vezes um filme não precisa ser o melhor, só precisa ser bom e este é o caso. O Deus nórdico precisa de um fim de trilogia digno e no final vale cada centavo do ingresso e no final é só isso que importa.

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