Filmes e Séries

Crítica | Star Wars: Ascensão Skywalker "marveliza", pisa no seguro com final requentado e satisfatório

Antes de qualquer coisa, preciso dizer, depois de alguns meses as declarações de Martin Scorsese fazem muito sentido. E, não, eu não virei casaca, ainda sou marvete safado e os filmes da casa das ideias ainda me divertem. Porém o modelo Marvel, ou como a mídia prefere falar, fórmula Marvel, não pode ser referência para todos os filmes de ação e aventura daqui pra frente. Cinema é mais do que isso. Ter uma identidade e apostar nela, errando ou acertando, é premissa básica para experiências diferentes e realmente impactantes.

Pronto, partindo disso, você, fã de Star Wars, de qualquer idade, deve estar se perguntando o que este pseudo crítico de araque quer dizer, não é mesmo? Pois bem, parece óbvio, mas o show de fan service despejado a cada piscada, os arcos fechados, o desenvolvimento de alguns personagens e o final, que tentou ser épico de todas as maneiras possíveis, deixaram explícitos o objetivos dos envolvidos com o longa em transformá-lo, fracassadamente, em um Vingadores: Ultimato Jedi.

E não que o filme seja ruim, vibrei em diversos momentos, pirei com easter eggs e participações inesperadas, cenas de ação bem coreografadas e alguns pontos de viradas, apesar de óbvios, bem interessantes, mas tirando tudo isso, deveria sobrar, como no épico da Marvel, uma história, um objetivo, uma aventura que não fosse fechar apenas as pontas soltas dos filmes anteriores. Não há um nada além de fan service bem mastigado, que acenda a nostalgia em nossos corações e nos faça sair com um sorriso de orelha a orelha. Missão cumpria J.J.

OK, o filme não é ruim, longe disso, mas abandonou a ousadia de Os Últimos Jedi, o capítulo anterior da saga, que mesmo não sendo unanimidade aposta em uma identidade própria, pra praticamente ignorá-lo no cânone. Como se este filme fosse uma continuação direta de Despertar da Força, também dirigido por Abrams, e pisa no seguro não querendo incomodar o chato e exigente fã de Star Wars. 

O diretor abusa do óbvio, tal como no primeiro episódio desta trilogia, e aposta na mesma estrutura de o Retorno de Jedi (UAU, FUI SURPREENDIDO!). Tem redenção, tem flerte com todos os lados possíveis da força, tem fantasminha, tem Ewoks (opa, isso é spoiler?) e entrega uma jornada simples de costuras, insistindo em temas já abordados e querendo corrigir escolhas, que julgam equivocadas. O roteiro até tenta bancar o descoladão e finge ousar, mas em sua única tentativa, no tratamento de uma personagem clássica, mas fica tão superficial que precisa de um flashback pra lá de conveniente pra criar um retcon pífio. Aliás tudo é assim, precisamos deixar isso overpower, beleza, fácil, vamos criar uma desculpa esfarrada, nunca citada jamais e, pronto, eles (os fãs no caso) que lutem.

Aliás, como fans estamos acostumados à forma de contar histórias novelesca da saga, onde de um filme para o outro, escolhas narrativas são justificadas pela simples vontade da Força e está ok, eu aceito isso, todos aceitam, mas a falta de cuidado em resolver tudo de maneira natural, faz a direção escolher um vilão, que mais parece um Deus Ex-máquina que uma ameaça em si. Uma aposta, novamente segura, aparentemente inusitada, mas que parece descompensada e plano B para escolhas do diretor anterior.

Os personagens que aprendemos a gostar, como Rey, Poe, Kylo Ren e Finn entregam o que a gente esperava deles. Quer dizer, menos em um momento constrangedor no final do filme, onde metade da sala grita não, nos olhamos envergonhados e vida que segue. Seus finais foram satisfatórios, apesar de ficar evidente que a jornada deles era o que menos importava. Só era preciso dar um fim que os fãs pedem, parece ter sido o briefing da reunião dos roteiristas. 

Parece que eu não gostei muito, mas aplaudi em diversos momentos, o filme tem momentos muito bons, mas bons para aquecer o coração de um velho geek, que ama a franquia, e não pra servir a história, o desenvolvimento de alguns personagens. Sim, me emocionei com cada cena da Princesa Leia. Impressionante como ela foi utilizada em alguns momentos da trama, mesmo com a morte de Carrie Fisher. A produção conseguiu inseri-la, com cenas de outros filmes e funcionar. Palmas pra J.J.

Efeitos especiais, trilha sonora e design de produção é nível Star Wars, tudo incrível, bem feito e cheio de referências. Quem reclamar disso, boa pessoa não é. Fiquei com gosto amargo, fiquei. Mas não (muito) insatisfeito, achei muito covarde e um desperdício, fiquei triste com as escolhas, porém, seria um ingrato por não acolher bem os presentes que foram dados ao final de cada arco.

Star Wars é muito grande, não precisa copiar fórmulas, já copia a sua própria. Que não vire moda a marvelização, que possamos conhecer jeitos diferentes de contar histórias. Nós merecemos.

Fã é fã, né? Mesmo quando parecia um final xoxo, o diretor apela para uma frase de efeito, que faria todo fã entrar em orgasmo. Você apelou J.J. Eu aplaudi. Como eu sou uma puta, amei o filme.

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