Filmes e Séries

Crítica | O Rei do Show – Um bom musical ou apenas mais do mesmo?

“The noblest art is that of making others happy“
P.T Barnum

Essa frase ecoou em minha mente do momento que a li, na abertura do O Rei do Show, até agora. Ela me trouxe questionamentos, afinal, o que é a arte? Será que um monte de aberrações, animais, gigantes e mulheres barbadas podem ser chamados de arte? Será que um transexual (que pra muitos é uma aberração (ー_ー)!! ), sem a tessitura vocal de um diva, pode ser chamada de arte também? Afinal, quem pode julgar o que é arte? Nós? As pessoas que protestavam no filme?

O longa O Rei do Show, dirigido por Michael Gracey, se passa em meados do século 19, mas a discussão é tão contemporânea e, apesar de não ser explorada a fundo no longa, é até mais pertinente que o próprio filme.

Já que cito o diretor, vale dizer que é o primeiro filme dirigido por Gracey, que é um notável artista de efeitos visuais, mas que deixa claro sua inexperiência na apressada direção e pela falta profundidade (talvez aqui mais culpa do roteiro) de todos os personagens. O filme acerta de início ao apressar a trajetória do filho do alfaiate, que se casa com o seu amor de infância, mas erra ao não dar profundidade para as conquistas e tropeços de P.T. Barnum (Hugh Jackman).

Sinopse básica: O filme conta a história de Barnum, um gênio do entretenimento, visionário (ou vigarista, depende do ponto vista), ele praticamente criou a indústria da arte como vemos até os dias de hoje. Como toda história de superação, ele começa pobre e desacreditado e tem uma vida de altos baixos até um possível redenção. Premissa que é interessante e se torna ainda mais atrativa por se tratar de um musical, mas se perde na fragilidade do roteiro e na superficialidade de como é retratada.

Mas aí você me diz, “mas é um musical, seu chato, o que você esperava?”. Sim é um musical, e realmente as músicas são o ponto alto do filme, mas quando os personagens não estão cantando e saltando pelos cenários, eles precisam ser desenvolvidos, não? E o roteiro preguiçoso e previsível entrega uma história rasa. Em momento algum há consequências que durem mais que alguns minutos de filme e nem mesmo a atuação magistral de Hugh Jackman salva o filme de um vazio dramático inesperado.

Hugh é um show à parte. Atua, dança e canta (poucas vezes sincronizadamente) e entrega tudo que se esperava de um ator de seu calibre. A energia que entrega a esse personagem já valeria o ingresso, mas ele vai além do que se espera. Fantástico. Junto dele temos uma apática Michelle Williams, e o esforçado casal Zendaya e Zac Efron, que funcionam muito mais como casal que os protagonistas da história.

Aliás Zac e Zen fazem um dos números mais inspirados, com uma coreografia incrível e uma das melhores músicas do longa. Eles têm química e tal como Hugh elevam muito o nível do filme. Zac tem uma outra cena fantástica com Jackman em um bar. A sincronia e a forma como usam o cenário de maneira percussiva impressiona demais.

Ah…. Já que falamos do cenário, preciso dizer que me incomoda um pouco o aspecto teatral, o filme explora pouco a Nova York do século 19, e se foca mais em ambientes fechados. Pra quem teve, há pouco mais de um ano, um musical com a fotografia e a direção de arte de La La Land, se decepciona com economia nos detalhes. Tudo é muito limpo, sem camadas que nos coloquem na época que se passa.

Deixei o melhor pro final, porque é que melhor foi explorado e mais me emocionou, sim, pode não parecer, mas gostei de O Rei do Show. As músicas, todas, sem exceção, estavam incríveis. Letras bem encaixadas, melodias grudentas e uma roupagem pop bem contemporânea. Cada canção ali poderia ser escrita para uma Kate Perry, Gaga ou Rihanna da vida, mas não, contavam parte da história em números sensacionais.

Não tem como não se emocionar com as canções, sim, eu chorei, sim, eu sorri, a música mexe com a gente e eleva nosso espírito a ponto de esquecermos alguns erros e simplesmente nos permitir ser feliz. Afinal, não é isso que P.T. Barnum queria?

Por mais defeitos técnicos que possa ter, a função da arte é nos tirar da posição de conforto, seja pra nos fazer sorrir, chorar ou apenas dançar. Rebolar a raba no chão ao escutar um funk proibidão ou degustar um pró seco ao som de um Jazz virtuosismo são apenas formas de consumir arte. Seja o povo simples que vibrava com as Aberrações do Circo ou aristocracia que brindava ao som de Jenny Lind (Rebecca Ferguson), todos só queriam sorrir. E até o mais rancoroso dos críticos se rendeu a cantoria de O Rei do Show, um filme com problemas, mas que entrega um excelente musical. Escutem a trilha sonora.

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