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Capitã Marvel | Crítica | Ela não tem que provar nada a ninguém.

Sabe aquela sensação de “caramba, por que nunca tinha feito isso antes?”, pois é, acredito que foi o que passou pela cabeça de Kevin Feige ao ver o resultado final de Capitã Marvel. E não, não foi o melhor que eles podiam ter feito, pelo menos pra mim, mas ainda assim foi incrível.

O primeiro filme de uma heroína, protagonista, na Marvel foi dirigido por Anna Boden e Ryan Fleck, e fica claro que a contribuição da dupla aqui foi dar uma atenção a atuação, grande destaque do filme. A direção de ambos, não é autoral, mas a sintonia entre os personagens é com certeza uma junção do talento dos atores com uma direção acertada.

No mais, ficou claro também a inspiração em clássicos filmes de Buddy Cop, como Máquina mortífera, desde a composição dos personagens até direção nas cenas de perseguição e ação. Shane Black ficou orgulhosíssimo. Foi uma direção preguiçosa, mas OK. Senti muita falta de alguém mais autoral.

O CGI que usaram pra rejuvenescer Nick Fury ficou incrível, Goose, que apesar de ter 4 gatos dublês, foi recriado a perfeição digitalmente, também. Pena que algumas cenas, principalmente no espaço, ficaram a desejar no acabamento, mas nada que atrapalhe o longa.

Um ponto que me agrada no filme é a montagem. A edição, tanto na parte dos flashbacks, como no decorrer do longa, ajuda a contar esta história de um jeito bem interessante, inclusive disfarçando alguns defeitos do CGI. Os cortes das cenas de ação mostram falta de experiência da direção, que acabou pesando na edição.

Capitã Marvel

A narrativa do filme se constrói em cima da montagem que lembra um pouco de Man of Steel mas, até pela trama, flerta com Identidade Bourne. Já o roteiro, mesmo que pareça simples e direto, é cheio de sutilezas ao abordar de maneira leve o empoderamento da protagonista, sem esbarrar em frases panfletárias e desnecessárias. O filme é certeiro, tem um público alvo, e deixa isso bem claro.

Carol Danvers é uma soldado Kree, desmemoriada e debochada. Ela adora quebrar regras, ser atrevida e tenta a todo momento provar a todos que é capaz. Depois de uma emboscada Skrull ela acaba visitando a Terra, onde conhece Nick Fury e acaba descobrindo quem é, e como foi parar em Hala, o planeta Kree. A célebre rixa Kree x Skrull é o fio condutor da trama. Mas não se engane, ninguém é bom ou mau o suficiente em uma guerra.

Brie Larson dá vida a Carol e, definitivamente, não decepciona. Muito criticada por aparentemente não ter muitas expressões (engraçado nunca terem feito as mesmas críticas a Chris Evans, como Steve Rogers), ela impressiona pela maneira como entrega seu personagem e alterna entre humor e drama.

Capitã Marvel com Nick Fury

Junto dela temos a química perfeita. Samuel L. Jackson novamente é Nick Fury, mas aqui em uma versão mais nova, inexperiente e incrivelmente carismática e engraçada. Emulando uma quase réplica de Murtaugh, interpretado por Danny Glover em Máquina mortífera, a dinâmica entre a dupla conduziu toda a trama.

Destaques para Ben Mendelsohn, como Talos, um ardiloso e complexo líder Skrull, Lashana Lynch, a companheira Maria Rambeau, Jude Law, como Yon-Rogg, um militar Kree e a maior estrela de todas: Goose, a gata linda e doce (nem tanto), que arrancou suspiros e risadas durante o todo o filme. Aliás taí algo equilibrado na produção, o tom. Humor na medida certa, ação quando necessário e drama quando a situação pedia.

O filme me trouxe sentimentos mútuos, o primeiro foi o desconforto. Eu, um leitor de HQs, apegado a muitas coisas que lí e considerava ser intocáveis, de repente se rende ao novo, ao improvável, a mudança. Portanto, se você é reticente a quebrar conceitos velhos e empoeirados, tem altas chances de você não gostar de Capitã Marvel.

Capitã Marvel - Skrulls

Capitã Marvel definitivamente não vai agradar a todos e a Marvel sabe disso. Tanto que a própria personagem entende isso no final filme. Ela não precisa provar nada a ninguém, e mesmo esbarrando em convenções clichês de filmes de heróis consegue ser relevante.

Talvez seja o filme mais diferente, estruturalmente falando, da Marvel, mas que quando é fortemente exigido, no sentido narrativo, apela pra velha fórmula do estúdio. Sabe o ousado, mas nem tanto? Talvez uma das derrapadas do longa, apesar ser compreensível apostar no seguro.

O que impressiona ainda é a coragem de rasgar algumas páginas de Gibis, feitas 50 anos atrás, e recriar uma origem, ainda que baseada no passado, que conversa muito mais com uma geração de garotas que precisam de alguém, como elas, pra admirar, do que com sua fanbase de nerds do século passado, como eu. Mas não pense que por isso a Marvel desrespeita suas histórias, muito pelo contrário, ela se reinventa sem forçação de barra.

Capitã Marvel poder

Carol Danvers é empoderada sim, o filme aborda temas feministas e relevantes para os tempos modernos, mas de uma forma bem leve, apelando pro humor, pra mostrar como algumas cenas, comuns no dia-a-dia, chegam a ser ridículas.

Carol não é perfeita, ela erra, e muito, mas cada vez que levanta ela se torna mais forte. E não, não vou cair na idiotice de comparar com Mulher-Maravilha, porque ambos deve ser celebrados. A minha noiva assistiu comigo e visivelmente emocionada, chorava a cada queda de Danvers e sorria cada vez que ela se levantava, como se ela se enxergasse na tela. Imagino que seja um sentimento uníssono entre as garotas que assistiram.

Demorou Marvel, vocês não entregaram o melhor filme do mundo, longe disso, mas entregaram o que muita gente esperou anos pra ver. Obrigado.

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